A Revista Catorze abriu diálogo com blogs locais sobre a “polêmica dos corpos nus” na UFRN. Um outro ponto de vista sobre a “polêmica” da UFRN. (link original aqui)
Por Beto Leite, Revista Catorze.
O grupo Cruor de arte contemporânea fez uma apresentação/intervenção na UFRN onde os membros ficaram nus. Um dos mestres do jornalismo da barrigada do nosso estado, o Bruno Giovane (Blog do BG) colocou no seu site “Trote na UFRN acaba com alunos nus”. Seguindo a cartilha da boa blogada imprudente, corrige apenas o título como se nada tivesse acontecido para “Apresentação cultural. Pessoal acaba dançando nu na UFRN”.
A Carta Potiguar, que se diz uma “alternativa crítica”, manda em seguida: “Alunos do Deart tiram a roupa como forma de manifestação artística na UFRN”, e no ralo texto o Daniel Menezes fala: “confesso não ter opinião formada sobre o assunto.”. É claro que você não tem Daniel, você não estava lá, você não viu a apresentação. Eu não tenho, e boa parte dos internautas não deveriam ter. A opinião não é sobre a arte, e sim sobre o nu. Peitinhos, pirocas, xoxotas e bundas escandalizando a nossa sociedade feudal.
O objetivo de posts como esses é evidente: ganhar visitação. O blogueiro salivante não está nem ai para as consequências ou superficialidade do que escreve. Quer dá primeiro. Ele não se importa com o que está fomentando, que ideia está fortalecendo. Normalmente a velocidade da cobertura dos fatos vem apenas para reforçar o senso comum, pobre, superficial e resistente ao diferente.
Ai alguém vai falar, “mas na internet é assim que se faz”. Pois eu digo uma coisa: esse jeito de fazer é reacionário, burro, retrógrado, canalha e escroto. E não me venha com essa conversinha de imparcialidade que não engana mais ninguém. Já passou da hora de saírem do armário. Não diferem em nada do jornalismo tendencioso e agarrado nas tetas governistas do grandes veículos locais.
E deixo aqui o convite para os meus coleguinhas jornalistas: relatem, no espaço para comentários, as censuras, pautas tendenciosas, dentre outras cretinices tão comentadas em mesas de bar e caladas na redações. Na cobertura nervosa dos blogs procura-se desesperadamente um outro Pedro Costa, alguém que faça algo que o senso comum considere bizarro, para que ganhar pageviews um pouco de dinheiro e/ou prestígio. Tipos de coberturas como essa mais emburrece do que elucida, alimenta preconceitos.
Mas a frase ficou na minha cabeça. “Na internet é assim que se faz”. Dai percebo certa injustiça que cometi nos parágrafos anteriores. Não é apenas mérito dos blogueiros de plantão. O Facebook e o Twitter são o “Fantástico País da Barrigada”. Todo mundo faz notícia, relata, fotografa e filma. A galera quer achar algo pra fazer piada, uma frase de efeito pra “fazer pensar”, um motivo pra se indignar. E num processo de retroalimentação, quase de fusão, o jornalismo e as redes sociais se misturam competindo, fortalecendo o engessamento do pensamento. O ibope é a moeda de troca. Todo mundo quer a fama instantânea. Vale tudo para consegui-la.
Então começo a acreditar que se pensa pouco na internet. A carapuça cristalizada do personagem que criamos de nós mesmos no mundo virtual não permite erros. Ninguém erra na internet. Lambo as botas do primeiro que assumir o erro. De se arrepender e relatar com tanta euforia como fala de um sucesso pessoal. Se não existe flexibilidade no pensamento, não existe pensamento. E assim seguem os intermináveis e cansativos debates de redes sociais, onde ninguém admite o erro. Ninguém se inclina ao pensamento do outro. Ninguém se dobra. O diálogo se torna uma competição.
O André Bezerra me falou uma coisa que não esqueci: “Vivemos em tempos de guerra”. Como em uma batalha campal as estruturas sociais, os discursos e pensamentos tem suas fronteiras bem definidas para entrar em conflito.
O nu também tem o seu lugar bem definido. Uma amiga chegou a comentar o Blog do BG estava “se metendo”, como se ali não fosse o lugar dele. O nu não pode estar em uma manifestação à “luz do dia”, deve ficar restrito as manifestações de arte em uma galeria. No cinema, com ressalvas por favor. Na literatura de segunda que a titia usa pra se masturbar. No Youporn, no Redtube, onde trancados externamos as nossas reprimidas ânsias sexuais.
Este celibato para o pensamento de novas, ou até óbvias, ideias do corpo, é típico dessa sociedade cristã virtualizada que estamos. Ler os comentários de posts polêmicos de meia tigela me faz imaginar o que permeia o imaginário de boa parte das pessoas. Parece que se uma pessoa nua cruzar com alguém na rua algo de catastrófico pode acontecer.
Acredita-se que os outros corpos entrarão em ebulição ao ver o outro corpo como veio ao mundo. Nos tornaríamos animais. Laberíamos os corpos uns dos outros imediatamente. O comportamentos ditos amorais promíscuos se alastrariam como um vírus. Punhetas nervosas, siriricas estridentes, sexo na rua, orgias na praça. Picas gotejantes e bocetas esquichadoras tomarão as ruas.
Como é juvenil o pensamento do moralista!