Li em alguns blogs e jornais a repercussão da vinda de José Dirceu a Natal. Estive presente na palestra e a discrepância entre o que eu ouvi e o tratamento dado pela imprensa local é gritante, além de emburrecedor.
É que o jornalismo político sempre se concentra nas disputas, nas supostas negociatas, como se estivesse narrando uma novela, um Big Brother e seus conchavos, colocando alguns no paredão e votando pela permanência de outros.
Penso que narrar a formação dos grupos, dos acordos é relevante para se compreender o jogo da política. Mas e sua substância, aquilo que move os atores a entrar em rota de aproximação, ou colisão? Não existe nenhum projeto, visão de mundo, ideologia por trás de tudo isso (o jornal valor econômico e a carta capital vêm expondo as diferenças entre os partidos em embate, suas aspirações e pontos de vista sobre políticas sociais, econômicas, etc)?
A imprensa local, com boas exceções, óbvio (continuo enfatizando – discordo da maioria das opiniões do novo jornal, mas é possível ver linha editorial substantiva ali), acaba esvaziando o conteúdo potencial libertador da política, o seu caráter organizador das relações de poder em prol de determinados objetivos.
É sintomático ver que os mesmos jornalistas defendem a organização da máquina estatal na forma de uma empresa. Na cabeça deles, não existe contradição, desigualdade e a luta para acessar os recursos escassos. O político deve ser um mero gerente, um estoquista de loja, como se não tivesse de negociar com partidos, que representam forças sociais portadoras de interesses e concepções diversas e, não raro, divergentes do que se almejar alcançar.
O exemplo da vinda de José Dirceu é significativo. A maioria dos jornalistas centralizou-se na declaração do ex-dirigente do partido de que o PT pode ter candidato a governador. Ou seja, tudo se resume a formação das chapas para as eleições de 2014. Ora, José Dirceu deu uma resposta banal para uma pergunta banal – qualquer membro partidário vai dizer que sua agremiação tem bons nomes, etc.
Um grande segmento da imprensa local, em parte por pura preguiça intelectual, em parte por achar que política é só a luta pelo poder para se locupletar dele, simplesmente jogou na lata do lixo o que foi tratado na AL RN diante de um auditório abarrotado de gente. No fim, uma cobertura de bobo alegre, das bordas, desconsiderando o que está em enfrentamento – modos diferentes de administrar a sociedade, enfrentar a desigualdade, fazer a economia crescer, etc.
Não são apenas os governadoráveis de hoje que ainda não disseram porque querem liderar o RN. A imprensa se mostra incapaz de fazer o seu papel de perguntar e qualificar o debate. Uma pena.