#CaosNatal: O Carnatal da InSegurança Pública
Um Dossiê de Imagens
Por Ivenio Hermes e Vanessa Dantas
O Registro Alternativo
Quando Vanessa Dantas foi convidada por David Rego, seu namorado e membro do Conselho Editorial e um dos fundadores da Carta Potiguar, para emprestar suas habilidades de fotógrafa para o artigo “CarNatal: O Impacto na Segurança Pública”, ela com certeza estava preparada para a outra realidade que as lentes de sua máquina registrariam.
“Ai, aqui parece um Alecrim gigante…” Vanessa Dantas
Entretanto, sentir o impacto do comércio alternativo e quantidade de consumidores de todos os níveis sociais, e perceber a miséria ao contemplar famílias inteiras tentando sobreviver da coleta de lixo reciclável, arrancaram da jovem as palavras acima.
Alyson Freire, professor de sociologia e mestrando no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais da UFRN, também é membro do Conselho Editorial Carta Potiguar, numa observação mordaz comentou como a hipócrita fórmula do “movimento a economia” desmorona exatamente naquelas famílias que tem no lixo e nos restos dos outros sua “renda” de 10 reais/dia.
Uma Festa Destoante
David Rêgo até tentou entrar num clima que conheceu outrora, mas percebeu que a festa que um dia ele frequentou deixou de existir e apresentava francos sinais de decadência.
O antropólogo e cientista político também lembrou, até com um tom saudosista, durante nossa passagem pela Rua Alexandrino de Alencar, uma rua que já fora e distante do circuito da micareta, que há algum tempo, a grandiosidade do evento era tamanha, que naquela esquina por onde passávamos, já começam as disputas para entrar na multidão de participantes.
“Isso aqui já foi um verdadeiro rito de passagem, agora parece mais com a tentativa degradante de lucrar em cima da miséria e insegurança dos outros.” David Rêgo
Os 3,4 quilômetros de percurso parecem curtos para quem está se divertindo, mas para o policial que passa a noite em pé, com equipamentos pesados e precisa se desvencilhar deles para usar o banheiro, estarreceu a falta de planejamento administrativo, a busca soberba pelo lucro indiscriminado, o abandono da segurança primária do evento que ficou a cargo quase exclusivamente da Polícia Militar, a falta de investimento prévio para cada evento, deixou o Carnatal em franco declínio.
Um Flagrante Incômodo
Habituado a enxergar o mundo com um olhar critico, sempre procurando duvidar de tudo que vê para poder escrutinar a realidade e ponderar suas observações, Alyson Freire me acompanhou durante o dia inteiro naquela busca por evidências daquilo que afirmo em meus textos.
Alyson, mais uma vez, ao perceber como os policiais eram tratados em detrimento do serviço que se propunham a prestar, viu quando alguns aguardavam na fila do banheiro químico, pois seus pontos de apoio estavam distantes de sua área de atuação.
“Vamos avisar ao policial que o fotografamos… é o mínimo de respeito que ele merece.” Alyson Freire
Quando fotografamos o policial comprando água, depois de todo o tratamento desrespeitoso que esses agentes recebem da administração pública, com o atraso de suas diárias, e da Destaque Promoções, fez a afirmação acima, procurando mostrar um pouco de respeito ao profissional da segurança pública
Habituados ao Desrespeito
Como membro da segurança pública, eu conheço o desrespeito com o qual somos tratados pela organização desses eventos com a conivência do Estado. Já usei pesados equipamentos e precisei ficar 12 horas sob a fadiga e a falta de reconhecimento da população que não enxerga o profissional da segurança pública como um ser de carne e osso.
Recebemos apenas cobranças e respondemos pelo mínimo erro sem se importarem se nos deram condições adequadas de desempenhar uma determinada tarefa.
“A gente vem de longe e fica morando aqui, mais de quatro dia, pois nós chega antes pra pegar um lugar bom e fica até não ter mais o que pegar.” Adelmo – Catador de Recicláveis
Pelo menos, ainda temos alguma coisa. Mas não consigo sentir mais a minha dor do que a dor das famílias que vem de lugares distantes, dormir sob tendas improvisadas e passar quatro dias sem o mínimo para sua segurança e conforto.
Que um dia a justiça maior, caso a dessa terra venha a falhar, recaia sobre aqueles que deitam sobre camas de cetim e pétala, geradas por fortunas construídas em cima da miséria de tantos.
Artbooks
Os álbuns virtuais “#CaosNatal Day: A Realidade Oculta 01 e 02”, “#CaosNatal Night: Sob o Glamour da Miséria 01 e 02” e o vídeo “O Outro Lado do Carnatal: Uma Declaração de Lucro” possam esclarecer um pouco mais dos sentimento daqueles que não são notados pela maioria ofuscada pelas luzes do Carnatal.
REFERÊNCIAS:
HERMES, Ivenio. Álbum #CaosNatal Day: A Realidade Oculta 01 e 02. Disponível respectivamente em: < http://migre.me/chVzr > e < http://migre.me/chVJ8 >. Publicado em: 08 dez. 2012.
DANTAS, Vanessa. O Outro Lado do Carnatal: Uma Declaração de Lucro. Ensaio em Vídeo. Disponível em: < http://migre.me/cimlg >. Publicado em: 08 dez. 2012.
HERMES, Ivenio e DANTAS, Vanessa. Álbum #CaosNatal Night: Sob o Glamour da Miséria 01 e 02. Disponível respectivamente em: < http://migre.me/ciAHB > e < http://migre.me/ciC2C >. Publicado em: 09 dez. 2012.
HERMES, Ivenio. CarNatal: O Impacto na Segurança Pública. #CaosNatal, uma ode à insegurança. Disponível respectivamente em: < http://migre.me/chVXP > . Publicado em: 08 dez. 2012.
