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Fábula do Passado… Realidade do Presente

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E as Perspectivas do Futuro

Por Ivenio Hermes

“A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração.” Charles Chaplin

 

 

As Pinturas

Era uma vez um tio, e começo por ele apenas porque ele nasceu antes, mas a história deveria começar por ela, que é a grande pérola desse conto. Mas deixando esse modelo de contar histórias de lado e voltando ao tio coadjuvante, prossigamos nossa narrativa.

Era uma época de buscas e as famílias árabes da região de Euthelia viviam em busca de novas paragens para apascentar seu gado. O sábio Esha sabia que era uma vida dura e decidiu enviar seus filhos para serem educados em um lugar mais distante ainda. E foi assim que Esmirna e Nasir, irmã e irmão, unidos por uma amizade inexplicável, embora separados por uma diferença de idade de 10 anos, foram agora separados pela distância, que devido à dificuldade de transporte, era implacável para eles.

Euthelia pouco prosperava e a possibilidade daqueles dois irmãos voltarem se tornava cada vez mais remota. Esmirna teve dois meninos e uma menina, e cada um deles se tornava conhecido do tio distante pelas pinturas cuidadosas que ela enviava para irmão. Numa das difíceis viagens, uma verdadeira peregrinação, os dois irmãos se reencontraram.

E foi nessa época que o jovem Nasir conheceu a sobrinha Ryaana em seus 6 anos de idade. O encantamento entre o tio e os sobrinhos era evidente e se extremou no caso da sobrinha, pois ela era a representação da filha que Nasir um dia gostaria de ter.

As pinturas enviadas a Nasir eram a ligação com o desenvolvimento dos sobrinhos amados.

Em Diversas Ocasiões

Um dia Nasir fora estudar em outro país. A distância aumentou e a dificuldade de reencontro também, mas com tudo isso, a amizade de Nasir com Esmirna também aumentou e dele para com os sobrinhos também era grande o apego, de tal forma que carinhosamente o chamavam de “tiozão”.

De regresso para as terras do Sultão Amir Ehur, Nasir passou a trabalhar para a segurança do reino e em diversas ocasiões pode rever os sobrinhos. Numa dessas ocasiões, Ryaana que se lembrava de Euthelia como menina, decidiu ir com o tio conhecer a terra onde os avós viveram.

Foi um curto verão onde a amizade entre tio e sobrinha se tornou de pai e filha, uma união de amizades, de carinho e de compreensão mútuos que parecia uma repetição da amizade entre Nasir e Esmirna, dessa vez, a versão que ocupava o lugar de Esmirna era Ryaana, de apenas 17 anos de idade.

O Verão do Aprendizado

Foram apenas 23 dias juntos incluindo a viagem, mas que marcou a vida de tio e sobrinha.

Eles falaram de religião, cada um de seus amores, de suas ideias para o futuro. Era amizade e respeito às ideias de cada um mesmo nas divergências. Com a jovem Ryaana o tio aprendeu como seria sua vida se tivesse uma filha.

Passearam juntos, visitaram os mais velhos, conheceram os lugares e bravamente Ryaana provava de todas as iguarias da terra de seus antepassados.

Ela não temia experimentar, era tudo novo e o tio andava por todas as partes apresentando orgulhosamente a sobrinha aos amigos com o peito estufado de orgulho.

A troca de experiências foi enorme, mas a jovem Ryaana, também cheia de orgulho do tio, mal imaginava que o tio se sentia o aprendiz e reconhecia na sobrinha o espírito inquieto e indômito de seu avô, de sua irmã, enfim, da ala mais aventureira da família.

Indomável e indômita como seus antepassados, Ryaana não aceitava os costumes comuns da mãe, foi rebelde, gritou de dentro de seu corpo frágil, que mal consegue segurar a guerreira lutadora que nele habita que a vida regrada não seria para ela uma imposição de fácil aceitação.

A aventureira descobriu naquela viagem às terras de seus avós, que ela era feita de uma madeira mais resistente e que seu espírito nômade precisava viajar.

E foi assim que certo dia, ela partiu deixando para trás toda a família, em busca de um sonho que era somente dela e que não partilhava com os outros, nos bons e velhos moldes de seu avô Esha, que segredava seus planos até que as possibilidades de darem errados fossem mínimas.

O tio Nasir Nehir se perdera na nostalgia e na saudade de nunca mais ter visto a querida sobrinha, até seus filhos a viram depois dele, mas ele não. Esmirna Nehir e seu marido Yaluze, aos poucos foram aceitando que a filha não era tão diferente da mãe e do tio, que não se apegavam a nada diante da possibilidade de conquistar o sonho almejado.

O vento não levou!

Nasir reaprendeu com a sobrinha a arte de lutar por um objetivo, ela não sabia, mas cada atitude forte e perseverante dela rumo aos sonhos que ela possuía, injetavam no tio pequenas doses de força de vontade e desejo de vencer.

E todo amor que une os Nehir continua existindo. Ryaana Nehir passou por muitas situações ruins, acidentes, humilhações, sonhos postergados, uma doença que a persegue até os dias de hoje, mas ainda é uma bela e lutadora moça. Os sonhos foram se realizando e outros ficaram desbotados diante do colorido de novos que despertaram.

A última notícia que tenho deles é que ela está grávida. A 4ª geração dos Nehir fora de Euthelia, após 23 gerações apenas parcialmente distantes do núcleo do nascimento da família, se prepara para iniciar seu trajeto. Que tipo de ser humano virá dessa vez? Outro indomável? Um apegado a terra? Ou os nômades naturais?

Somente sabemos que hoje, no dia que muitos relembram seus mortos, os Nehir anseiam pela nova vida. A essência material do patriarca Esha Nehir se foi jogada no lugar da escolha dele, a essência do novo ou nova Nehir virá para deixar sua marca também. Afinal, o amor inerente a essa família, o vento não levou.

E as Perspectivas do Futuro

Obrigado Nayara, pela oportunidade de ser tio-avô, que não é como eu me sinto, pois meu coração grita, meus olhos se enchem de lágrimas e meu espírito indomável já sente a sensação de ser avô, da única sobrinha, da quase filha, daquela cuja a pronúncia da alcunha “tiozão” possui um significado que somente seu pai deve sentir de verdade.

Vou ser avô, da mina neta… ou neto, filho da minha sobrinha ou filha, dádiva de Deus.. Ou… Deus, desse não resta dúvida.

Feliz sábado!