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Crescimento econômico e educação

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Carlos Henrique Araújo

Mestre em Sociologia, consultor em Educação, ex-Diretor de Avaliação da Educação Básica Inep/MEC. chfach@gmail.com

A experiência internacional e as análises estatísticas dos dados de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da expansão quantitativa do acesso à educação básica nos países pobres levam a concluir que não há relação direta entre aumento de escolaridade dos indivíduos, pura e simplesmente, e crescimento econômico. Para uma nação alcançar um crescimento econômico sustentável é preciso levar em conta, além da dimensão educação, especialmente, a consolidação de instituições importantes para a economia livre, o progresso e a inovação tecnológica. Registre-se, ainda, a importância do contexto cultural como uma base para o desenvolvimento econômico.

Em outros termos, se não há a produção de incentivos de investimentos no futuro, permanecendo a convivência de baixo desenvolvimento e pouco investimento tecnológico, ausência de ambiente livre para negócios, permanência de alta inflação, gastos excessivos do estado em prioridades privadas, dificuldades de aberturas de empresas, altas taxas de juros e poucos incentivos a liberdade empresarial, excesso de intromissão do estado na economia, alta carga tributária, poucas chances se tem de crescimento econômico sustentável, mesmo que se elevem as taxas de escolaridade da população. Não se consolida uma Nação forte e competitiva sem estes pré-requisitos.

Agrega-se a estes elementos o fato de que a experiência da ampliação da educação fundamental no mundo subdesenvolvido foi marcada por um forte quantitativismo, o importante era expandir e pouco importando a qualidade. É ai que se encontra a chave da questão. É necessário ampliar a escolaridade média da população, mas com efetividade de desenvolvimento de habilidades, competências e perícias, com efetividade de resultados. Este é o tipo de educação que irá contribuir para o crescimento econômico de países e dos indivíduos.

A educação de qualidade e inclusiva não foi foco do setor educacional nos países pobres. Os sistemas educacionais, em geral, não foram capazes, a partir da segunda metade do século passado, de desenvolverem habilidades e competências de investimento no futuro e em tecnologias para a população em geral e, mesmo, para as elites locais. Os diversos processos de ampliação da escolaridade básica e de terceiro grau somente foram bem sucedidos em seus aspectos quantitativos. Foram construídas escolas em massa, mas sem a efetividade essencial que é o aprendizado, sem um corpo de profissionais bem pagos e bem formados para ensinar os estudantes.

A situação da atividade docente, então, explica muito da falta de qualidade, hoje, nos sistemas de ensino. O aumento quantitativo de professores nos países pobres foi feito recrutando-os entre as camadas populares da sociedade. Eles cresceram com o corporativismo e suas reivindicações e a educação passou a ter como foco os professores e não o aprendizado dos estudantes. Geralmente, mal preparados desistem de ensinar de forma efetiva e com responsabilidade pelos resultados, e passam a querer ganhar sempre mais, aumentar salários, sem os critérios de eficiência e eficácia, resultando em um enorme e inaceitável desperdício de recursos. São professores que não ensinam efetivamente e não são cobrados para aquilo que são pagos.

Pode-se argumentar de forma enfática que se investiu muito dinheiro em algo sem qualidade e sem conseqüências robustas para o desenvolvimento de muitos países. Boa parte do crescimento educacional foi feito em nome de um ensino ideológico e religioso, fora do alvo. Muitos sistemas educacionais funcionaram muito mais para disciplinar mentes do que para gerar habilidades que poderiam contribuir para o desenvolvimento econômico e a autonomia dos indivíduos. Foram feitas em função da disciplina das mentes e não do incentivo aos cérebros.

Em ambientes de capitalismo pouco desenvolvido e forte cultura patrimonialista, mistura entre o público (bem público) e o privado (bens privados), o aumento de escolaridade vale pouco em termos salariais, não compensam em termos de rendimento futuro salarial e investimento escolar. A escolarização não foi culturalmente enraizada como um fator de promoção das pessoas, de cultivo ao mérito, de mobilidade social e de desenvolvimento humano.

Boa parte da expansão educacional nos países pobres representou gastos adicionais, com má alocação de recursos. Gastaram-se rios de dinheiro, inclusive com doações governamentais internacionais, sem o retorno em crescimento do PIB e melhoria do convívio social e sem, ao menos, instituir uma educação decente.