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Um piano pela estrada

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Por Paulo Afonso Linhares, Professor da UERN

Depois de tantas coisas exóticas que vi pelas estradas da vida, custou acreditar fosse realidade a ideia genial do pianista Arthur Moreira Lima de levar às populações do interior deste país continente a boa música.  Cidades e pessoas que jamais haviam visto um piano de cauda, a não ser decerto através da TV, têm a oportunidade de ver – ao vivo e em cores – o resultado excepcional do projeto (Um Piano pela Estrada) comandado por AML e que envolve uma equipe de dezessete pessoa, inclusive um afiador de pianos exclusivo. Afinal, o ano de 2011 termina e nem tudo foram agruras e desalentos, cá por estas bandas. A música tocada nas praças pelo piano de AML enleva almas e infunde esperanças.

Aliás, é inevitável a associação de Arthur Moreira Lima com Fitzcarraldo, aquela personagem imortalizada por Werner Herzog, em filme de 1982, em inspirada interpretação do ator Klaus Kinski. Segundo narra uma sinopse desse filme, “no final do século XIX, no apogeu do ciclo da borracha, o aventureiro Brian Sweeney Fitzgerald sonha em construir um teatro de ópera na Amazônia peruana. Para realizar seu sonho, não mede quaisquer esforços, enquanto se embrenha na mata com um barco a vapor de 160 toneladas (que irá tentar arrastar ao topo de um morro no meio da selva)”. Nada muito distante, pois, do que realiza Brasil afora o pianista Arthur Moreira Lima, este que reconhecidamente é o maior intérprete conhecido da obra de Frédéric Chopin. Aliás, Moreira Lima foi um menino prodígio que começou a tocar piano aos seis anos de idade e aos oito anos já executava uma sinfonia de Mozart.

E se espalha nas ruas a belíssima música de Bach, Beethoven, Chopin, Mozart e Villa-Lobos, intercalada com magníficas referências musicais de gênios como os nossos Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Luiz Gonzaga e o argentino Astor Piazzolla. Para encher os ouvidos e despertar o coração. Essa síntese fantástica que o pianista Arthur Moreira Lima vem levando às cidades brasileiras (no RN, visitou Pau dos Ferros, Alexandria, Apodi, Açu, Mossoró, Macau, Caicó e Currais Novos, Parnamirim e Natal), faz pensar naquilo que o mestre Ariano Suassuna repetead nauseam em suas aulas-espetáculos: é tolice essa divisão entre música clássica e música popular; o que existe mesmo é música boa e música ruim.

Eis um excelente projeto bancado pela Lei Rouanet, através do Ministério da Cultura, valendo cada tostão empregado por fortes patrocinadores como a Petrobras, Caixa Econômica Federal, Thyssenkrupp e Poupex (Banco do Brasil), além do patrocínio local do Estado do rio Grande do Norte. Sem isto não seria possível financiar a caravana que é composta pelos 17 profissionais da equipe e a estrutura composta por um caminhão teatro, um caminhão de apoio, um microônibus, uma camionete de carga e dois carros que transportam a equipe.

Nessa passagem por Mossoró, ouvi um relato de Arthur Moreira Lima sobre essa experiência fantástica que vivencia no projeto “Um piano pela estrada” e as suas impressões sobre o Brasil atual. Impressiona a sua tenacidade e, sobretudo, a fé no trabalho que desenvolve, de levar a música aos mais remotos rincões deste país, em alguns dos quais as pessoas sequer jamais viram de perto uma piano de cauda e um músico tão famoso, sobretudo no exterior, como é o seu caso. De minha parte, não pude queixar-me de nada: além da conversa agradável com esse grande humanista e músico que é Arthur Moreira Lima, fui agraciado com seis belos CDs por ele gravados. Foi enriquecedor conhecê-lo pessoalmente. No fim de tudo, a sensação de que assiste razão ao bardo inglês Shakespeare quando afirma que “[…] Nós somos feitos do tecido de que são feitos os sonhos.” We are such stuff as dreams are made on. Ave, Arthur Moreira Lima! Que vivam muitos anos mais, você e sua bela música. Aos leitores magnânimos, a esperança de continuarmos juntos no 2012 que se avizinha. Salve.