Há uma certa esquerda no RN que sonha com o pensamento único. Criticam a homogeneidade do pensamento da mídia, a quem, quando não convêm, chamam de “PIG”, mas a ideia é retirar uma suposta visão unilateral para colocar outra em seu lugar.
É uma questão de não saber viver com a diferença. A Carta Potiguar está sofrendo ataques de quem fala em “alteridade”, só como uma palavra típica do politicamente correto do seu gueto, mas que não a incorpora na prática. É pura verborragia para fazer pinta de progressista.
Não é segredo que o site começou comigo e com David Rego. A ralação não foi pequena. Depois de um tempo, outros foram ingressando e adquirindo igual ordem de importância. Os alicerces do site sempre foram claros – um espaço voltado para o debate em que todo e qualquer colunista poderia escrever sobre o que quiser da forma como bem entender.
A perspectiva era, sem dúvida alguma, nova. Tanto é que, rapidamente, alcançou o topo dos sites mais acessados do RN. No entanto, a linha não é fácil de ser engolida. Por um lado, a CP foi vítima de inúmeros ataques pessoais da direita. Até a minha história familiar foi parar nos jornais como uma forma de tentar me calar.
Mas a crítica da direita já era previsível. A ausência de subserviência já tradicional no RN iria doer nos calos de muita gente.
O que impressiona é o modo como certa esquerda age, muitas vezes, do mesmo jeitinho. Incapazes de contrabalançar argumentos – cansei de publicar textos de pessoas que escreviam me criticando, desde que não contivesse ofensas pessoais -, passaram a dizer que eu procuro um cargo na UFRN. Em outros momentos, que eu recebo dinheiro do PT.
Primeiro, só entra na UFRN quem passa num concurso, que é público, ainda que a simpatia conquistada pelos pares possa ajudar. Ora, o meu comportamento é de quem, justamente, terá mais dificuldade para entrar na instituição. O aluno que tende a conquistar a simpatia e ingressar sem maiores resistências é o que permanece calado. Sabe jogar sem se indispor com ninguém. Mais uma vez, produzo o contrário disso.
Critico os lados em disputa na UFRN, sem nenhum maniqueísmo. Política para mim não é fla-flu. Por exemplo, escrevi missivas, juntamente com Alyson, falando a respeito da péssima condução por parte da reitoria no caso do internamento do aluno e da ausência de treinamento e maior esclarecimento a respeito da política de segurança da UFRN, mas também vi com maus olhos a forma como o Sintest atuou para impedir a aprovação do projeto na questão dos hospitais universitários.
Eu não vou apoiar um sindicato que acorda regras de votação com o oponente (nunca adversário) e depois, vendo que vai perder, começa a apagar as luzes do recinto, furta papeis da mesa de reunião, sobe na mesa, liga sirenes e empurra colegas, como fez o Sintest. Não é possível endossar um sindicato que, “para fazer volume”, leva alunos para uma reunião, ludibriando-os com lanches. A suposta agressão sofrida por Sandro Pimentel foi uma grande papagaiada. O pró-reitor, que ao meu ver também errou, só partiu para a agressão depois de sofrer vários empurrões, conforme relato de professores que estavam acompanhando os fatos.
Segundo, quanto ao dinheiro do PT até agora procuro saber de onde tiraram isso. A única “evidência” seria a de que votei em Mineiro e de que pedi voto para ele. Será que isso é suficiente para tanto? Será que quem produz esse tipo de fala projeta um comportamento que lhe é peculiar? Só milita por dinheiro? O fato é que, durante a eleição, por acreditar no projeto de Mineiro, liguei para quase todos os meus amigos e passei SMS para toda a minha lista de contatos, o que fez estourar a minha conta OI. Só perdi (o que considero como um investimento pelo novo que vejo Mineiro representar) tempo e dinheiro. Pior. Por trabalhar com pesquisa eleitoral, o meu comportamento militante só me atrapalhou como “vendedor de pesquisas”. E foi justamente o que aconteceu.
As acusações não têm o menor fundamento. Se tratam apenas de fofocas, que funcionam como forma de controle social para impedir que eu critique aquilo que penso ser criticável. Só. O resto é a pura sordidez de alguns que atuam com as mesmas táticas de desqualificação, que dizem não concordar.
CARTA POTIGUAR: UM VEÍCULO DIFERENTE
A carta potiguar, sem dúvida, é um veículo diferente. Aonde, no RN, que teríamos dois textos publicados, com duas análises diversas, sobre a questão da reitoria?! Mas o que essa esquerda quer é adesão, não o debate.
SOBRE A OCUPAÇÃO DA REITORIA
Continuo mantendo a minha crítica. Em que pese saber que minha vida está sendo vasculhada e espalhada pela UFRN, como uma forma de me desqualificar, não endosso um “movimento” que não dialoga, desrespeita membros da instituição com xingamentos e usa de violência e depredação como estratégias políticas. Não é encapuzado e com ameaças pelo youtube e em comentários em blogs de discordantes, que se discute numa universidade.
Há inúmeras formas mais reflexivas de levantar o debate. Por que não chamar seminários sobre o assunto? Produzir dossiês sobre a questão da segurança? A própria Carta Potiguar, se fosse procurada, abriria as suas portas.
Na universidade se age com argumentos e não com pressões intimidadoras.
E tem de ser um debate e não seminários e diálogos para produzir o movimento inverso, que é criminalizar o trabalhador terceirizado que está atuando na UFRN, este sim com sua fala totalmente cerceada. Repito, se quisermos produzir consensos substantivos, e não a política do fla-flu.
SEGURANÇAS SILENCIADOS
Tive o trabalho de conversar com seguranças da UFRN para saber a opinião deles. Fiquei muito impressionado com o relato.
Eles alegam ter problemas com alguns alunos, que os chamam de “analfabetos” e que os acusam de “nunca terem lido um livro”. Em resumo, são vítimas do conhecido racismo de classe, que gente de classe média, ou supostamente portadora de capital cultural, direciona contra os pobres.
Os seguranças me falaram também que os mesmos estudantes que agora reclamam deles, são os que fazem uso de drogas nos corredores da instituição, ou produzem festas, com bebedeiras e atos sexuais, de madrugada naquele espaço público, que deveria ter regras mínimas de convivência.
Os seguranças precisam de treinamento para lidar com estudantes. Para mim isso é ponto pacífico e falta coragem para a reitoria enfrentar o tema.
Mas os estudantes necessitam respeitar um espaço, que é público. Canso de ver pela manhã discentes fumando maconha nos corredores do setor II, desrespeitando quem não quer ser incomodado pela fumaça. Há regras de convivência ali, mais uma vez, que deveriam ser respeitadas. E, antes que eu seja enquadrado como “careta”, digo que não tenho o menor problema com maconha. A questão é de outra ordem – é de levar em consideração que ali não é a minha casa, nem de outra pessoa. É um espaço de todos.
Vamos desenvolver o debate, mas abordando todas as nuances do mesmo e não apenas aquilo que me interessa, ou o que não me desabona.
ESQUERDA E DEMOCRACIA
Esquerda sem democracia vira totalitarismo. E quando me refiro a democracia, falo na necessidade de produzir e aceitar regras básicas de diálogo, o que, justamente, está faltando para os alunos e para o Sintest. E aceitar quando sabe que vai ganhar, mas também quando sabe que vai perder.
Se a reitoria já institucionalizou uma comissão para averiguar os ocorridos, com maioria da oposição, nesse quesito não há o que reclamar. Os contratos de terceirização não podem ser cancelados do dia para a noite, porque, simplesmente, um punhado de alunos está pedindo. Se a reitoria fizer isso, terá de enfrentar problemas.
Os alunos falaram a respeito do treinamento no Tirésias. A questão é interessante, mas é preciso razoabilidade. Primeiro, o Tirésias está preparando para tanto? E mesmo que tenha qualificação, como eu acredito que tem, porque o Tirésias e não outro grupo? Não retiro a legitimidade do citado núcleo de pesquisa, mas também não esqueço que há outros interessados em gerar o treinamento, caso ele venha a ocorrer. É fundamental levar em consideração esses aspectos.
Eu continuarei mantendo a minha pegada. A carta potiguar continuará mantendo a sua. O site não vai estabelecer relação de adesão, pois se isso ocorrer não haverá mais sentido para a existência desse espaço. Mais. O espaço continuará aberto a opiniões divergentes. Pensamento único, quer seja direita ou de esquerda, aqui não. Que os sectários entendam.