Todas as grandes cidades que tinham carnaval fora de época no formato do (nosso?) carnatal – me recuso a escrever a palavra com a primeira letra em maiúsculo como os bajuladores – já acabaram com o evento, ou mudaram completamente o formato de modo a retirá-lo do perímetro urbano adensado. Em alguns casos, a dita folia foi para outras áreas em que o impacto é menor; em outros, o empreendimento passou a ser realizado em espaços fechados.
O motivo é simples. Uma festa privada não pode impedir que pessoas não consigam entrar em suas casas, sujar as ruas, fechar parte significativa do trânsito, impedir o direito de ir e vir, gerar grande poluição sonora. Um negócio que visa o lucro não pode socializar transtornos.
Aliado a todo esse processo, que por si só já justificaria a alteração do modelo praticado em Natal, há, ainda, o apoio da prefeitura. No momento em que os salários dos funcionários públicos municipais se encontram atrasados e o prefeito Paulinho Freire, que é um dos donos do carnatal, alega que não há condições financeiras para decorar a cidade com a sua já tradicional confecção natalina, patrocinar a festa representa um contrassenso. No âmbito estadual, o mesmo governo que tenta diminuir os repasses pétreos para o combativo ministério público, é o que também vai ajudar a financiar o evento.
Mas há mais privilégios. Enquanto a promotoria do meio ambiente fecha bares (centros de cultura) tradicionais da cidade, sob a alegação de respeito ao direito dos moradores, o carnatal funciona sem Licença Ambiental, destrói canteiros urbanos, efetiva massiva exploração de publicidade sem taxação pública, além de afrontar natalenses que são forçadamente envolvidos.
O carnatal é para que Natal? E representa o amor e o prazer de quem, para quem? Algo é certo: é de uma Natal que produz a derrota da cidadania. Aguardo a demonstração do cínico argumento, “mas movimenta a economia”.