Meninos, eu vi!
Depois de consultar os Tirésias, os Nostradamus, os Mapas Astrais de João Bidu e o Lunário Perpétuo de Antônio Nóbrega, digo-lhes com rara franqueza: eu vi o futuro!
Vi e o revelarei para vocês. Duvidam do meu crédito? Ora, não tenho culpa se o Futuro, o incerto e às vezes distante Futuro, resolveu abrir seu largo sorriso para mim, logo para mim, o mais atrevido dos pardais sem público. Improvável, muito improvável, é verdade; de que adianta revelar o futuro para alguém que não tem quem lhe dê atenção? Confesso que também não sei. De toda forma vou aproveitar este brinde que tão renomada figura me ofereceu, e compartilharei em forma de diálogo o que ela me segredou aos sussurros no ocaso do falecido ano de 2011.
Disse-me o Sr. Futuro que teremos eleições em 2012. Claro que protestei.
-Oh, seu Futuro, isto todo mundo sabe!
– Calma. Junto das eleições teremos brigas, traições, acusações, pesquisas tendenciosas, debates vazios, tudo isto para no final ganhar alguém que vai governar por quatro anos só pensando na reeleição.
– Está de brincadeira?, disse-lhe com ar de revolta.
– Vamos adiante. Teremos também as Olimpíadas na bela Londres.
– Não diga?
– Sim, meu caro. Teremos boicote de uma emissora e ufanismo tupiniquim das outras para as medalhas de bronze e prata conquistadas aos montes pelos atletas do Brasil, além de muitas lágrimas brazuquinhas pingando sobre o ouro dos outros. No fim, o sucesso do Brasil nas Olimpíadas ficará para a próxima.
– Mais alguma novidade impactante, seu Futuro? – ou seria sem futuro?
– Sim. Ministros vão cair após denuncias de corrupção, o governo vai culpar a imprensa golpista, e de um jeito ou de outro a roubalheira vai continuar.
– Sério? Essa é novidade para mim…
Desanimei com as previsões e apertei-lhe a mão com frieza. Formalidade apenas. Quando ele já estava a virar as costas, lembrei de uma coisa e gritei:
– Ei, seu Futuro! E o mundo? Acaba mesmo em 2012?
– O mundo? E ainda não acabou?
Depois dessa, ele me abraçou fraternalmente e sumiu em uma nuvem de fumaça.
Vejam, meus amigos, que maravilha de previsões apresento, auferidas dos lábios de quem é o artífice dos acontecimentos vindouros, certos como a morte, e previsíveis como o amanhecer.
Obviedades? Também não tenho culpa. O futuro é assim mesmo, tedioso, mas também cheio de surpresas. Ademais, há muito tempo que ele se apresenta assim sem graça. O que hei de fazer? É esperar para ver.