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Coado na calcinha

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Por João Victor Leal, Estudante de Jornalismo UFRN

Gente,  Época é uma revista que trata de atualidades e assim não poderia deixar de falar de comportamento.  Ah e não esqueçam que ela também precisa vender quando chega à banca, isso sempre conta na hora de escolher uma boa capa.  Essa semana enfiaram o cantor paranaense  Michel Teló, várias mãos  e uma discussão sobre os valores da cultura brasileira na frente do semanário.

Segundo o site de Época, o batidão sertanejo   “Ai se eu te Pego” – lidera as vendas no iTunes, o site de venda de música da Apple, no Brasil, na Espanha, em Portugal, na Itália, na Suécia, no Chile e na Argentina. Além de ter até o final de 2011 mais de 93 milhões de visualizações no Youtube,  é o sétimo  vídeo musical mais visto do planeta.

Ai já chegou  a polícia do Facebook com um bocado de gente dizendo : “ai tanta coisa mais importante acontecendo, isso é falta de pauta”, “falta de relevância” blá, blá , blá!!!

Sinceramente ainda não li a matéria, mas acho super relevante sim analisar as mudanças culturais que estão acontecendo na sociedade brasileira e nada melhor que usar a música que se escuta agora para isso. Se esse for o mérito da reportagem, ponto para eles.

As pessoas se incomodam com a letra fácil ou com a melodia pobre, uns até acham engraçada (particularmente adoro toda versão que cai na internet, a do exército israelense ficou ótima),  o que não dá para negar é que a música do Teló, seja pelo amor ou pela ojeriza, alcançou  todas as classes,  do cara que compra no camelô ao cara que compra no Itunes.

Ai dizem os analistas “Foi a nova classe C que influenciou a mudança” ( já repararam que usa-se essa frase em tudo hoje em dia?).   Eu sei lá se  foi a classe C ou não! Até parece que antes da “ascensão dos 20 milhões” o Brasil escutava Vivaldi e Bach e que o fenômeno dos hits populares é algo novo.  Talvez o que seja novo é a tentativa de quebrar  o preconceito com esse tipo de música, que vira e mexe te deixa com a mão no joelho , balançando vocês bem sabem o que.

Essa galera que gosta da tal música  boa  precisa enxergar que o Michel Teló não quer ser o Chico Buarque.  Nem tem condições pra isso. Mas nem por isso o sucesso que ele faz é menos digno do que o feito pelos grandes da MPB.  Eles alcançam públicos com formações discursivas diferentes , ninguém duvida disso. Mas ainda assim são públicos e merecem escutar aquilo que desejam escutar.

Essa nova leva de músicas populares recheadas com ritmos regionais  já tem um espaço que  está se consolidando, isso é ótimo!  Dessa vez,  talvez, chegam ao sucesso  sem toda aquela pitada  de preconceito que só  a gente sabe dar.

A popularização de nomes como o de  Gaby Amarantos e seu tecnobrega  são a prova disso.  O clichê é velho, mas faz-se necessário repetir “tem espaço pra todo mundo dentro do ônibus”.

Gostei da  edição de Época por isso, fico contente ao ver uma “música do povão” tomar a capa de uma revista conservadora de uma forma positiva e não pejorativa,  como quase sempre ocorre.

Você não gostou,  não escute.  Só isso, vou lá comprar meu exemplar!

João Victor não é ninguém , não escreve pra lugar nenhum e ah,  por mais difícil que seja te convencer após ler esse texto,  ele não é fã de Michel Teló.