As vereadores eleitas, Professora Eleika (PSDC) e Amanda Gurgel (PSTU), avisaram que não vão ficar com os seus salários.
Enquanto a democrata-cristã alega que vai empregar os vencimentos como vereadora, para impulsionar atividades em prol da educação. Amanda Gurgel alega que só vai ficar com a parte referente ao seu antigo salário de docente, cerca de 2700 reais (o vereador tem em contracheque de 15 mil reais). O restante repassará para a sua agremiação.
A decisão das vereadoras é soberana. O dinheiro é delas e elas dão a destinação que acharem conveniente. Mas está em jogo também o significado político de tal atitude. Ao dizer que não vai ficar com o salário e fazer disso uma plataforma eleitoral, como ocorreu com a vereadora Eleika, a professora alimenta o mito de que política é algo que só serve para gastar dinheiro público. Assim, quanto menos política…, melhor.
Nesta lógica, o bom representante não é mais aquele que encarna interesses coletivos e legisla em prol da democrática arbitragem dos mais variados anseios sociais. O político valorizado é o que “oferece menor prejuízo”. Com isso, sai a construção da polis como um espaço de debate, da representação de interesses e construção de consensos para o melhoramento da sociedade e entra a ideia da política meramente como honestidade, que basta gastar pouco e não roubar, para se tornar digno de nota.
A política é uma atividade profissional remunerada, e assim deve permanecer. Até para não acontecer com a Câmara Municipal do Natal, o que ocorre com os dirigentes de clube de futebol no Brasil, que trabalham de maneira amadora sem vencimentos, com os resultados conhecidos. A sociedade remunera porque quer ter o direito de cobrar, também, de um trabalhador que se dedica exclusivamente para a sua atividade parlamentar, no caso da Câmara Municipal do Natal.
O que preocupa é o preconceito em relação a política e aos representantes, que essa atitude ajuda a institucionalizar/fortalecer. O vereador trabalha muito: são sessões e mais sessões, debates, visitas a comunidade, conversa com os representados. Merece receber salário sem qualquer questionamento.
Em relação a Amanda Gurgel, que cede os seus recursos por direito para o PSTU, há a consagração do coletivo em detrimento do individual. Um tipo de projeto que apaga a pessoa e diviniza a lógica do grupo partidário. Bem, é preciso estabelecer um limite quanto a essa invasão consentida. Já há o fundo partidário e a agremiação se vale de tal recurso público, para manter suas atividades de representação e de disputa democrática. Mas Amanda cria uma figuração em que o PSTU é tudo e ela não é nada. Uma adoração que se assemelha aos tempos de partido único, ou mesmo das relações entre fieis e pastores.
No final das contas, as duas ações descambam para a configuração do semelhante cenário, que é desvalorizar a política profissional e pintá-la como o espaço do dinheiro fácil e farto, que está sendo desperdiçado, enquanto os cidadãos não tem outros serviços (educação), ou foram tolhidos em suas expectativas partidárias.
Em suma, prestam um desserviço simbólico-objetivo com os seus gestos, ao esvaziarem o labor contido no contexto da representação parlamentar. E aonde há trabalho profissional, não há nada que diminua quem receba por ele.
DEMOCRACIA
A professora Amanda Gurgel nem assumiu e já está sendo objeto de crítica nas redes sociais. Ela foi eleita pelo voto e é de bom tom respeitar a atitude soberana vinda das urnas. No mais, torcer para que ela faça um grande trabalho em seu primeiro mandato.