Por Arrison Henrique Souza de Oliveira
(Bacharelando em Direito pela UFRN, Assistente em Administração na UFRN, Ex-membro do Centro Acadêmico Amaro Cavalcanti e Militante pela diminuição das discrepâncias sociais)
Nesses tempos de eleições municipais fala-se em preceitos como o da liberdade de expressão, de democracia e da importância da pluralidade de ideias. Atualmente, nos mais diversos ambientes de conversas, a politização da população e a publicidade das informações se demonstram como tema atual e importante para as futuras decisões da nossa sociedade. Outro tema que envolve caloroso debate é sobre uma paixão nacional: o futebol. Nada obstante as inúmeras ideias que são discutidas na mídia esportiva, nos artigos de opinião e nos círculos de amizades, as decisões de maior impacto nos times de futebol não são, em geral, discutidas e decididas pelos torcedores em geral, porquanto ainda há a impressão que apenas os abonados podem participar das decisões nos Conselhos Deliberativos.
Segundo Darcy Azambuja, em seu livro Teoria Geral do Estado, nenhum termo do vocabulário é mais controverso que democracia. Empregado pela primeira vez por Heródoto há quase dois mil e quinhentos anos, o significado do vocábulo variou e se transmutou, por algumas vezes. No entanto, sabe-se que a democracia pressupõe liberdade e igualdade. Este conceito, ainda segundo a autora, veio da Grécia, especialmente de Atenas, significando literalmente “poder do povo”, expressão que se entendia como “poder exercido pelo povo”.
Então, como se pensar em um time realmente democrático, que tenha a observância da maioria, que, em geral, são aqueles que estão na arquibancada, verdadeiros apaixonados, sem a sua possibilidade de decisão?
Ademais, na democracia realmente deliberativa há de se pensar na multiplicidade de opiniões, pois como haveríamos de abarcar o pensamento da maioria sem uma representação com direito a voz e voto? Apenas com o encontro de ideias que se pode fomentar o debate em busca de uma posição una que represente o interesse da instituição.
Ainda exemplificando com o uso da política, fazendo uma analogia, o Conselho Deliberativo é irradiado pelas funções de um vereador, dependendo do estatuto do clube há algumas variações, entretanto, em geral, o Conselheiro tem o dever de fiscalizar, participar de Câmaras Setoriais, bem como aprovar ou vetar as contas da diretoria. Dessa forma, deveras necessário que o torcedor realmente identificado com as cores e o interesse da coletividade, in casu, apenas do clube, possa estar incumbido dessas funções em prol da consecução dos fins da instituição.
Exemplo de tentativa incipiente de abertura democrática ocorre em um dos nossos times potiguares, o ABC Futebol Clube, o qual propiciou uma mudança em seu estatuto, modificando a forma de entrada no Conselho Deliberativo. Anteriormente por convite, atualmente por votação em uma chapa, demonstra uma evolução, ainda que emergente na possibilidade de entrada do dito “torcedor comum” no anteriormente sacrossanto lugar de Conselheiro.
Há a necessidade da população, assim como na política, participar ativamente da vida dos clubes de futebol, donde somente com isso poder-se-á fazer uma gestão mais profissional, fazendo a escolha dos funcionários por capacitação, determinando metas e observando o rendimento, diferentemente da centralização que se percebe atualmente na maioria dos clubes onde poucos tomam as decisões, por vezes, sem proficiência alguma. Acredito que, com isso, a participação efetiva do torcedor no clube, mudando a mentalidade que o Conselheiro deve que ser apenas o abonado e sim com a mentalidade, que pode ser todo aquele que possa estar adimplente apenas com a sua mensalidade, propiciando uma maior discussão de ideias e participação efetiva, profissionalizando os setores com profissionais realmente capacitados poder-se-á perceber uma redução nas desigualdades entre a disputa com os grandes centros, galgando ao menos uma posição de proximidade aos títulos de maior expressão.