Por Daniel Valença (professor de Ciência Política do curso de Direito da Universidade Federal Rural do Semi-Árido)
O telejornal do SBT resolveu fazer uma cobertura completa do cenário eleitoral nas capitais. Por curiosidade, alterei minha programação para assisti-lo e saber das novidades das pesquisas de Salvador e São Paulo. Após mostrar o empate técnico em Salvador (afirmando que lá há uma disputa acirrada entre PT e DEM) e Serra com quatro pontos à frente de Haddad em São Paulo na pesquisa Datafolha, um dos comentaristas, não sem o conhecimento do editorial do jornal, bradou algo que me parecia surreal: “por que será que a presidenta Dilma não consegue transferir sua alta popularidade para seus candidatos? Será que a população finalmente está dando o seu primeiro recado de que quer autonomia e não aceita que lhe digam em quem votar?”.
Ele poderia ter sido mais ético e informar à população que em Salvador o candidato do PT cresceu cerca de 20% em menos de um mês, empatando uma eleição que muitos afirmavam ser resolvida no 1° turno. Poderia ter dito que Serra largou na casa dos dois dígitos, e o primeiro deles era maior do que o percentual inicial de Haddad e que, mesmo com o misterioso cancelamento dos debates das duas principais emissoras, mesmo com a força do poder econômico e da grande mídia corporativa nacional, as pesquisas indicam empate técnico e uma forte possibilidade de Haddad no segundo turno.
Para além de ético, seria possível ser mais imparcial e lembrar-se que o PT surpreendentemente passou a liderar em Fortaleza, João Pessoa, Salvador, cresceu muito em Cuiabá, manteve a liderança em Goiânia e Rio Branco, cresceu em Belo Horizonte e provavelmente levará para o 2° turno a eleição, contra a máquina da prefeitura e do governo estadual, tudo isto num cenário de espetacularização do mensalão (aquele que renega o mensalão mineiro do PSDB, que retira o direito ao duplo grau de jurisdição dos réus, e, curiosamente, coloca José Dirceu, após tantos anos, no banco dos réus na semana da eleição).
Queda de avião, financiamento pelas FARCs, dossiês, mensalão, terrorismo religioso e homofóbico: a cena se repete a cada dois anos e, apesar de tudo, a história não acaba. A voz uníssona da grande mídia contra os candidatos do PT e a participação de Lula na campanha revela que os interesses e a luta de classes não morreram. No campo da institucionalidade, as grandes corporações ainda reconhecem seu adversário, por isso que só batem nele: é o partido que lidera um governo de coalizão, mas que sua base teima em manter sua identidade popular.
É por isso que o jornalista da Band não tentará ser menos parcial. É por isso que suas falas e de seus pares recorrentemente beirarão a um golpe. Eles sambam do lado deles.
Marilena Chaui, Antônio Cândido, Gabriel Cohn, Fernando Anitelli (Teatro Mágico), Pablo Capilé (Fora do Eixo), Dalmo Dallari, Maria Victória Benevides, Lecy Brandão, Vladimir Safatle, Celso Bandeira de Mello, Ricado Musse e centenas de outros artistas, intelectuais e simpatizantes sambarão do outro.
E no Rio Grande do Norte não será diferente.