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Apagão, nordestinos e piadas: tudo pode em nome do riso?

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Após o apagão do dia 25 de Outubro as redes sociais tornaram-se campo para a disseminação de uma série de “piadas” que tinham como alvo “brincar” com o suposto  “subdesenvolvimento do nordeste”.

O Humor agora parece que tornou-se o escudo para dar legitimidade ao preconceito. Tudo pode em nome do riso, até mesmo ser preconceituoso. Afinal, “é só uma piada”. Parte-se de um pressuposto que o riso é um reflexo direto da alegria e não existe problema nela.  Esquecem-se que a piada pode ocupar outras funções além da alegria. Ela é também uma ótima ferramenta para expor ao ridículo e humilhar.

Para compreender melhor os processos que “geram o riso” podemos ir rapidamente ao “howstuffwoks” e observar que entre as “teorias do riso” está a chamada “teoria da incongruência” que afirma:

A teoria da incongruência sugere que o humor cresce quando lógica e familiaridade são substituídas por elementos que normalmente não andam juntos. O pesquisador Thomas Veatch diz que uma piada se torna engraçada quando esperamos uma coisa e acontece outra. Quando a piada começa, nossas mentes e corpos já estão antecipando o que vai acontecer e como ela vai terminar. Esta antecipação tem a forma de um pensamento lógico interligado com a emoção e é influenciado por nossas experiências passadas e por nossos processos de pensamento.

O riso não é “consentido”. É uma surpresa. Não trata-se de um ato plenamente consciente. Não é bem uma escolha.

Muitos tem como pressuposto que: se riu é porque é engraçado ou gostou. Existe, inclusive, uma cantada muito usada pelos homens: soltam alguma cantada e logo após afirmam: “se riu é porque gostou”! Ao ver a combinação de uma cantada e a frase “se riu é  porque gostou” é natural que o alvo da cantada passe a rir.  Rirá,  mas não propriamente por ter gostado da cantada. Muitas vezes rirá de alguém que achou ridículo. A menina alvo da piada pode rir por vários motivos que vão desde “a boa piada e do homem engraçado” ao  “homem ridículo”. O riso ali pode ser tanto por ter gostado como por ter achado ridículo e não ter gostado. Ainda assim gerou o riso.

Também rimos de situações que nos desagradam muito. Quando você ri para esnobar uma situação errada. Este riso também não aparece “por decisão”, é reflexo, isso sim, de uma situação onde o autor do  riso julga ter visto uma situação “surreal” que foge completamente do bom senso e da realidade. Ri como forma de deboche/protesto, uma forma de expressar o descontentamento com o que foi dito ou feito.

O riso não express apenas alegria, felicidade e contentamento.

Assim sendo, expor seus preconceitos não é piada, é violência. E o “riso” e a piada também servem para violentar. Não são “naturalmente bons”.