Era um dia qualquer, uma aula qualquer, mas com uma afetação diferente. Quando eu vi a discente chorar, eu me assustei; fiquei preocupado. Só depois vim entender o porquê de ela ter chorado. Mas a lembrança de que eu a fiz chorar ficou marcada eu meu juízo.
Ainda que eu seja formado em Filosofia – com licenciatura e tudo –, devo confessar: nunca ministrei aulas dessa disciplina – sim, somos todos disciplinados! Nos idos de 2014 eu fui selecionado pelo Estado para ministrar aulas de Inglês em uma escola da cidade do Natal.
Entre uma aula e outra, sempre punha-me, por hábito, a refletir com os discentes acerca de algumas questões existenciais – minhas e deles! Por hábito, nunca digo, voluntariamente, que sou ateu, todavia, ao ser inquirido, nunca me furto a responder que sim, sou ateu.
Um dia qualquer, os discentes do 8º Ano começaram a fazer um monte de perguntas para mim e dentre elas estava a que eles mais gostam, a saber: ‘professor, o senhor é ateu?’. Sem titubear, respondi que sim. Quando olhei para o lado, uma discente chorava a ponto de soluçar.
Fiquei assustadíssimo com aquela cena.
Perguntei a ela o que havia de errado. Ela me disse que estava tudo bem, só que nunca tinha ouvido falar na possibilidade de alguém ser ateu. Pensei por um segundo e comentei: ‘pois bem, prepare-se, porque na vida há pessoas que pensam diferentes de nós; assim caminha a humanidade’.
Não fiquei feliz, mas sim satisfeito com meu comentário, pois aquele momento – no auge de minha pretensão! – pode ter sido decisivo para ela. Isto é, eu poderia ter dito qualquer coisa, eu poderia ter tentado amenizar algo, não sei. Porém, decidi manter minha posição, ainda que a discente pudesse amargar algum ‘desgosto’.
Às vezes é preciso nos manter firmes, ainda que os outros nunca tenham parado para pensar em possibilidades diferentes de existências. Isso faz com que a diversidade aflore – ao menos virtualmente.
Ainda que eu não me considere O Pedagogo, penso que às vezes consigo fazer boas comunicações por entre os discentes. O dia em que fiz uma discente chorar em sala de aula foi, em contraste, um dos dias mais interessantes que eu tive na prática docente, posto que ao menos aquela vida foi tocada pelo manto da diversidade.
Esse testemunho não serve como envaidecimento, antes, serve-nos como um alerta: os discentes não são seres sem luz, são serem a descobrir o mundo – diverso e, por corolário, cheio de diversidades.