Eu MOISE MUGENYI KABAGAMBE, um congolês imigrante, que vim ao Brasil para a fim de tentar melhorar minha vida e a da minha família. Vim morar no Rio de Janeiro, porque pensei que aqui poderia fazer minha vida, mas aqui encontrei minha morte. Eu não sabia que o Brasil era um país tão racista e xenofóbico assim, acreditei que fosse uma democracia racial.
De forma covarde e humilhante, bárbara e horripilante, eu fui assassinado, na última segunda-feira, 24 de janeiro de 2022, por uma malta composta por pelo menos três monstros, onde eu trabalhava (no QUIOSQUE TROPICÁLIA, localizado na praia da Barra da Tijuca, posto 8, zona oeste do Rio). Assassinaram-me a paus e tacos de basebol, como se eu fosse uma carne pronta para o abate.
O motivo pelo qual me mataram? Bem, eu era ajudante de cozinha (no QUIOSQUE TROPICÁLIA TROPICÁLIA – localizado na praia da Barra da Tijuca, posto 8, zona oeste do Rio) e estava há 2 dias sem receber meu salário – da morte. Cobrei o que me era devido e minha paga foi minha morte.
Meu sangue clama por JUSTIÇA, irmãos; meu sangue clama por vós!
Eu até tinha ouvido falar que no Brasil havia racismo, mas eu não sabia o tamanho da barbárie. Irmãos, eles me amarram, torturaram-me, ASSASSINARAM-ME.
Roubaram-me a vida. Como aves de rapinas, assaltaram-me os sonhos; os meus e de meus entes queridos.
Aqui, como no Congo, o ser humano não vale nada, só tem preço! A única diferença notável, em nível substancial, é que, no Brasil, os brancos de vocês praticam o racismo como se ainda estivessem em 1800. O aparthaid de vocês, apesar de não ser legalizado, é vivenciado na pele todos os dias.
Assassinaram-me, irmãos, porque eu era um estrangeiro vindo de África – não foi somente xenofobia, foi xenofobia racista: crime quituplamente qualificado! Assassinaram-me, irmãos, porque eu era preto.
Vocês têm de reagir, irmãos. Vocês têm de matar TODOS OS RACISTAS! – ainda que venha a doer em vossa própria carne. Todavia, irmãos, não pensem que se trata de vingança; antes, trata-se de JUSTIÇA ETERNA – você sabem e eu sabia: os brancos ricos se protegem; ao serem identificados meus assassinos, responderão em liberdade, liberdade essa que nós nunc tivemos.
Há de haver o dia do JUGAMENTO. Não por mim somente, mas por todos nós, pessoas pretas que vivem no Brasil e em qualquer outro país cujo racismo seja a pedra de toque da nação, ou mesmo a trama que mantém o tecido social.
Meu espectro roga somente um pedido, que ecoa e ressoa, tilinta e badala como mantra: QUEIMEM O QUIOSQUE TROPICÁLIA TROPICÁLIA – localizado na praia da Barra da Tijuca, posto 8, zona oeste do Rio. Não só por mim, entretanto, sobretudo, por vocês. Hoje fui eu, amanhã será um de vocês – se não agirem.
QUEIMEM O QUIOSQUE TROPICÁLIA TROPICÁLIA – localizado na praia da Barra da Tijuca, posto 8, zona oeste do Rio e, se possível, com os meus algozes dentro. Não podem me criminalizar, não podem me prender, porque eu já fui morto. Morto não faz apologia ao crime, morto clama por JUSTIÇA!
Eu só tinha 24 anos…