Os inteligentes, com suas inclinações poéticas, insistem em diferenciar solidão e solitude. Eu gosto de pensar que os que diferenciam esses termos intercambiáveis gostam de se enganar. Que seja!
Minha solidão comporta toda minha tristeza, indiferença, alegria e contemplação; minha solidão é feito uma roupa sem corpo, um salmo sem harpas, uma matéria escura sem cosmos.
Quando dei por mim, estava só. Das solidões que cultivei, apenas uma me causa sofrimento: a de existir. De repente, aceitei que minha alegria é um marketing involuntário, que disfarça minha incompreensão no existir.
A falta de referência é como uma haste que é erguida por ninguém, senão por si: sentido, para quê?
Quando pensei que fossem os outros em relação a mim, era eu quem não me enlaçava a ninguém. No início, eu pensei que eu fosse um fado – como se eu fosse um bardo! Depois pensei que fossem as descriminações. Ao fim, dei-me conta de que era só a existência exposta em raio-x.
Se não fossem as pedras, as plantas, os animais e as geografias, os sentidos não tinham boniteza alguma para mim. Reconhecer a sublimação estética é a marca da literatura, nunca a digital da mística.
A sabedoria Zen ensina a encontrar o estado búdico no leonino e no pudico, porém, de perto – e de longe –, não há sabedoria. A existência é uma brincadeira e a solidão é um desafio. Quem aprende a cultivar sua solidão, nunca passa fome!
Os traumas imputados às realidades são formas de injustiças, pois a culpa é do desejo – e da fantasia também.
Aqui e acolá, encontramos alguns pares que nos fazem esquecer – como que em estado sublimático – de que nosso estado natural – humano – é a solidão, sendo a alegria um frenesi efêmero. O segredo – e há? – é não se lembrar de esquecer que somos a recordação de muitas eras que não foram ainda – e só!
Estou para a minha solidão, assim como nosso Sol está para sua expansão – eufemismo para extinção.
Esse texto dispensa sabedorias outras, dispensa moral de história, dispensa crônica do cotidiano. É só um texto sem contexto, porque se trata de um intertexto – hiper? Jamais! A solidão é um disco na picape: arranha, mas não desconfigura — solidez! É ser alegre na solidão, mas não é possível…