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Por onde andas, Tita?

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São pouco moradores d’As Placas que lembram-se de Tita – quem sabe, os antigos – mas eu lembro-me bem. Éramos amigos, quando crianças. Talvez eu esteja exagerando, éramos conhecidos – eu e essa mania de pensar que todos de minha terra são coirmãos! –, infelizmente, não tenho essa memória em brasa em minha mente.

Se eu perguntar por ti, entre as pessoas de nossa cidade, poucas pessoas saberão dizer algo sobre ti. A bem da verdade, pouquíssimos saberão de teu paradeiro – meu eu sei!

Como um vento que se vai ao farfalhar das folhasaaaa, você se foi de nós e nem demos conta – pobre de nós, infelizes de nós!aaa

Como se fôssemos poeiras estelares, muitos de nós passamos por essa Terra sem que ao menos deem conta de nós. Há alguma coisa de triste nessa constatação. Como no poema de Álvaro de Campos, ao que parece, não fazemos falta a ninguém, pois, não passamos de sombras fúteis.

O mundo todo corre sem nós. Quando partimos, só lembram-se de nós duas vezes ao ano – e olhe lá: o dia em que nascemos e o dia em que morremos. Além disso, mais nada. Tudo cai no esquecimento, aqui na Terra e no fundo do mar.

Embora não tenhamos sido próximos – e por isso possa causar estranheza –, eu lamento sua partida, como se próximo a ti fosse; não sei ao certo por quê, mas lamento. Talvez uma das coisas que mais sinta é o fato de terem te olvidado, como se olvida a uma árvore, uma pedra, um novilho qualquer.

Hoje foi você, amanhã serei eu – será isso o que realmente me angustia? De fato, eu não o sei! Sei apenas que sinto sua partida.

Sempre me questionei acerca do desejo humano de ser eterno. Uns querem a tal da “vida após a morte” – amo esse oximoro –, outros querem descansar no seio do nada, outros tantos querem ter seus nomes gravados em imagens (busto; ruas; pontes etc.), eu… bem, como qualquer outro ser humano, eu quero permanecer vivo nos corações dos entes queridos, na certeza de que só lembrarão de mim de quando em vez – e já é alguma coisa!

— Por onde andas, Tita? — o tolo pergunta.

— Andas por aí, nas potestades do universo — um sabedor responde.

Encontrar-nos-emos, co-parente, na consumação dos séculos nos encontraremos. Saiba que eu não me esqueci de ti. Sei que não serve de consolo, mas não te esqueci.

Se não falei de ti até hoje, foi por respeito, e se decidi falar, foi por consideração.