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Não tome água em bebedouro, não corra atrás do busão! Eles querem nos humilhar!

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Não sei, talvez haja qualquer coisa empáfica em mim – ousado, sim, patife, às vezes! Algumas coisas do mundo chegaram-me de assalto. Ainda muito cedo, notei que duas coisas eram intrigantes para minha mente: como pode o ser humano – um animal –, está em cima de outro animal – um cavalo?; como pode o ser humano beber água em um bebedouro feito para pinto, feito para nos humilhar?

Aos dois questionamentos, comuns da infância, acrescentei outro, a saber: por que as pessoas correm atrás do busão, quando, na maioria das vezes – hipérbole! –, os motoristas parecem ter um prazer sádico em nos deixar para trás?

Cresci com esses questionamentos, os quais fazem muito sentido para mim, não obstante seja objeto de graça e gracejo de meus colegas e amigos, quando resenhando estamos. Sei lá, meio que entendo que nossos corpos são modelados por objetos que nem nos damos conta.

Não estou me referindo às bonecas e carrinhos de brinquedo, que nos impelem a assumirmos papeis genéricos. Estou referindo-me à moldura mesmo. Isto é, cadeiras moldam nossos corpos, assim como brincadeiras ao ar livre e bebedouros (de escolas e universidades).

Sim, não há humilhação maior que se curvar para beber a água naquele dispositivo que jorra água em nossas caras, como se ejaculação fosse. Não há maior humilhação que tomar água em um dispositivo todo babado. Não há humilhação maior que estar á mercê da boa saúde do outro, sob o risco de contrair alguma doença infectocontagiosa. Não há humilhação maior que… esquece, deixa para lá!

Os motoristas… ah, os motoristas! Estes fazem do ônibus o seu mundo. Pensam que estão a passeio; não entendem que são passageiros que pagaram a passagem, assim como não entendem que trabalham para uma empresa.

Os motoristas fazem do transporte sua própria existência. Esta é sádica, sempre que possível. Os motoristas, salvo alguns casos raros – claro! –, esquecem os passageiros de puro propósito. Deixar alguém na parada, como se lá não estivesse, é o ápice do prazer dos motoristas, ao fazerem sua catarse. É isso, a prática do sadismo é como uma purificação de sei lá o quê.

Nunca mais tome água em bebedouros – públicos e privados; não há diferença –, nunca mais corra atrás de busão!