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Terça-feira, 7 de Setembro: o grande ensaio golpista

Há pouco tempo escrevi o texto “Futurologia macabra: a PM será contida pelo Exército”, hospedado nesse mesmo site. Lá eu afirmava que o Exército, em 2022, terá de conter os policiais militares que se juntarem a Bolsonaro para dar um golpe de Estado. Pois bem, agora afirmo que o próximo 7 de Setembro será um grande ensaio para essa empreitada.

Diferentemente do que temem os 22 governadores da República, e com razão, o 7 de Setembro não será o dia do golpe. Nessa data foi marcado o ensaio golpista. Mas por quê, para quê? Bem, se trata de um momento conveniente para Bolsonaro e seu séquito avaliarem de que maneira dar-se-á os desdobramentos sociais desse ensaio.

Se o autocrata declarar que os Poderes – em tese – invadidos serão suspensos e seus membros destituídos, teremos um golpe de Estado clássico. Senão, tratar-se-á de uma “consulta” do apoio da população em relação aos seus anseios autoritários. Porém, se tivermos “apenas” pessoas invadindo as instalações dos dois Poderes (Congresso e Supremo), ainda que com a participação ativa e organizada de policiais militares (da reserva e da ativa) não configura golpe de Estado; no máximo uma arruaça e, no limite, um início de guerra civil – hipóteses que descarto peremptoriamente no atual momento!

Antes que eu adiante: há uma diferença enorme entre golpear um Estado e lograr êxito!

No ensaio golpista de 7 de Setembro o Exército será posto à prova. Eis a razão pela qual os comandantes golpistas estão incitando suas tropas militares nos Estados. Em outras palavras, os policiais militares golpistas, assim como nós – civis que assustem a tudo de camarote – querem ver até onde o Exército será leniente com a escalada golpista praticada à olho nu.

Este será o maior desafio do Exército brasileiro, não do Estado-Maior. Digo isso porque, de acordo com o art. 44 e  § 6º, policiais militares são as forças são auxiliares e reservas do Exército brasileiro, subordinados aos governadores. Na prática, isso significa que eles estão emprestados aos governadores, os quais são responsáveis por pagar seus soldos e garantir a operacionalidade do policiamento (fardamento, alimentação, viatura, armas e treinamento dos agentes). Em troca, o Exército lhes passa o condão de comandantes-em-chefe provisório de agentes policiais, os quais devem garantir a “lei e a ordem”.

Este ensaio golpista dará a dimensão do apoio do Exército aos apoiadores de Bolsonaro. Não, eu não me refiro aos seus fiéis sectaristas. Os verdadeiros apoiadores de Bolsonaro são empresários, latifundiários, oficiais de alta patentes das três forças, parlamentares e membros do Judiciário. Não tenham dúvidas, o que os policiais militares estão fazendo nada mais é que uma simples pergunta ao Exército: até que ponto vocês estão conosco? Aliás, essa pergunta que os policiais fazem, os demais apoiadores fazem também e por isso mesmo que estes apoiam aqueles!

Certamente, o Exército se arrependeu da escolha que fez, ao aceitar participar do governo de Jair Messias Bolsonaro. Isso porque, calcularam que não há espaço nem clima para golpe classista no mundo hodierno – seria muito démodé! –, então, optaram por inundar a administração pública com seus quadros compostos pelas mais altas e médias patentes da instituição. Porém, cometeram dois erros, a saber, além de não controlarem o presidente, de quem têm nojo e repulsa pelas suas ações pretéritas contra a própria instituição, ainda permitiram que a hierarquia e a disciplina fossem quebradas à luz do dia, por ocasião do ato político do gen. Pazuello.

Agora não tem mais volta, ou o Exército contém suas próprias forças auxiliares e reservas, ou serão coniventes com as sanhas golpistas de atores políticos que estão em flagrante minoria. Não é possível servir a dois senhores!

Para o presidente o 7 de Setembro será só mais um dia; para seus fiéis será um dia de glória, afinal, sair às ruas para aclamar seu grande líder; para os governadores será um dia tenso, posto que eles terão de agir energicamente contra todos aqueles policiais militares que se rebelarem e isso pode provocar um motim entre os agentes; para os apoiadores reais do presidente, que estarão assistindo tudo no conforto de seus lares, claro, será um divertimento; porém, para o Exército será a maior dor de cabeça do primeiro quarto do século XXI. Eles terão de lidar com policiais rebeldes – que se não forem punidos, incentivarão mais rebeldia – cortando na própria carne, se for o caso.

Com toda certeza, os maiores perdedores desse empreendimento, de um jeito ou de outro, serão os integrantes do Alto Comando do Exército. Pois, por salários e patentes mais altas, se indignaram a fazer parte de um Governo com espírito autocrático – eufemismo para GOLPISTA!; com isso, simplesmente destruíram a imagem que vinham construindo desde o final da ditadura. Dito de outra forma, o Exército golpista republicano e ditatorial, que estava disposto a se afastar da política – a fim de voltar a ter o apreço da nação, após a carnificina praticada nos tempos de chumbo e o colapso econômico –, atraiu para si o descrédito da população, bem como trouxe para a indisciplina e quebra de hierarquia para coração-cérebro da instituição.

Das Forças deve-se esperar tudo: entre fidelidade á pátria e golpe clássico. Por isso, não tenho a ousadia de mapear os passos futuros do Exército. Limito-me a dizer entre que peças que jogará e quais as consequenciais cada jogada têm. A parte das decisões eu deixo aos velhos, que são especialistas em fazer jogos de guerra!