Após a antropóloga Adriana Dias tornar pública e inconteste a ligação – para usar um eufemismo –, entre Bolsonaro e as hordas naeonazistas brasileiras, através da matéria produzida pelo jornalista Leandro Demori, no último 28 de julho de 2021, no site do The Intercept Brasil, não restam dúvidas sobre o que paira sobre nós. Aos mais interessados, recomendo que assistam a entrevista hospedada no canal do jornal, no YouTube. Dias nos oferece uma boa introdução acerca das raízes do “avivamento” das células neonazistas brasileiras e seu apoio ao então deputado Bolsonaro, o qual, além de reconhecer tal suporte, ainda o agradece, nos idos de 2002, por meio de uma carta endereçada a um site neonazi, que o tem em grande estima – não obstante a prática e a apologia ao [neo]nazismo seja CRIME no país, desde 1989, Bolsonaro não se atentou para a lei, nem ensaiou uma denúncia do site, por exemplo.
A bem da verdade, nunca tivemos dúvidas acerca do [neo]nazismo do Bozó, pois tínhamos a percepção e a analogia histórica, bem como os testemunhos e os caguetes do Presidente da República, que manifestava e manifesta sua postura neonazista sempre que oportuno. Se antes incorríamos no risco de sermos enquadrados na Lei de Segurança Nacional, filha da Ditadura Empresarial-Militar – através do art. 26, que dispõe sobre o crime de ofender a reputação do Presidente da República –, promulgada em 1983, hoje podemos gritar e alardear em altos falantes que Bolsonaro é [neo]nazista.
Por analogia, também podemos chamá-lo de [neo]fascista – chamar alguém de fascista, sem comprovação, é crime, porque macula a honra, ao passo que, bizarramente, não é crime ser neofascista no Brasil, ainda que seja crime ser nazista; sim, é isso que você está pensando: a Lei 7.716 de 1989, que criminaliza o nazismo e sua apologia, foi feita para gringos verem, assim como a lei de injúria racial. Se houver um bom e bem intencionado operador do Direito e boa vontade judicial, alguém pode ser enquadrado, por analogia e por meio de outros dispositivos, nos crimes de racismo, de injúria racial, indução e incitação à discriminação ou preconceito de etnia e religião.
Apesar de muitas vezes sermos tentados a falar que o Governo Bolsonaro é [neo]nazista, seria mais produtivo se falássemos em uma hyndra bolsonarista ou, se preferir, em um bolsonarismo hyndríco. Isso porque, em torno de si, Bolsonaro reúne [neo]nazistas (e [neo]fascistas saudosos da Ditadura, que também têm sémens fascistas), empresários, cristãos neopentecostais (católicos e evangélicos), imprensa (jornais, revistas, emissores e estações de rádio), operadores do Direito (desde o guarda municipal, passando por policiais, advogados, promotores até ministros do Supremo!), militares de todas as Forças e artistas, especialmente do meio musical – com atenção especial para os cantores de sertanejos.
Pela quantidade de agentes e camadas sociais que eu elenquei, nota-se que dizer que o Governo Bolsonaro é [neo]nazista não dá conta dos fatos sociais. O leitor notará que eu não citei os cidadãos comuns, sem institucionalização, senão os artistas, que, no geral, têm status de divindade, quando atingem a tão aleijada glória. Assim procedi, porque no resultado geral, os tentáculos da hyndra bolsonarista alcança o padeiro, o cozinheiro, a coveira, a garçonete, etc.
Digo, os cidadãos que desempenham função que mantém o fluxo social, não são produtores do bolsonarismo, são receptores. Já a imprensa midiática e os operadores do Direito, por exemplo, produzem e reproduzem, por sanha e lucros, atropelos legais e sociais, praticando crimes e criminalizando os cidadãos comuns, que, por muita repetição, acaba por pensar que isso tudo é a norma – eu até vejo o autoritarismo democrático como norma, porém, a impressão que temos é que é de outra natureza; porém, pode ser que eu esteja enganado ou seja muito ingênuo.
Alguns podem pensar que com o fim do Governo Bolsonaro, que provavelmente se dará no ano que vem, acabará a hyndra bolsonarista. Ainda que Bolsonaro não conteste o resultado – algo quase impossível de não acontecer –, sua saída não significará, nem de perto nem de longe, o fim do bolsonarismo hyndríco. Pois as instituições estão inflamadas por essas práticas autoritárias e contra humanistas.
A força do bolsonarismo não vem de si. Curiosamente, sua força advém do século passado. E não, eu não me refiro ao golpe empresarial-militar. Nos anos de 1930 já temos grupos integralistas, que é a versão brasileira do nazi-sala-fascismo, que expressam os germes dessa gama autoritária que plaina o país, cujos ventos pretéritos foram emanados pelos tempos imperiais.
Precisamos ter em mente que, além de mudar o que tem de ser mudado (mutatis mutandis), isto é, retirar Bolsonaro do poder, é preciso criar formas de suprimir, intoleravelmente, os ecos autoritários de quaisquer naturezas.
Uma colher de sal, para duas de água; esta é uma receita popular para conter e eliminar o crescimento de ervas daninhas (indesejadas) no quintal de casa. Já que seres humanos não são como sapos, não podemos contê-los usando sal, é preciso de algo mais!