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Hoje é dia de festa: vou fazer mercado

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Tomei um banho demorado. Pus minha melhor roupa, meu melhor calçado e usei meu melhor perfume. Por se tratar de uma ocasião especial – quase uma solenidade –, também pus meu relógio, que considero mais uma joia. Estava pronto. Era hora de ir ao mercado.

Faz muito tempo que não saio de casa. O período pandêmico realmente me deixou ilhado. Escolhi me ilhar – tive esse “privilégio” .

A simples atividade de ir ao mercado tem sido para mim um misto de aventura altamente perigosa – os motivos você já sabe – e glamourosa. Sim, ver gente interagindo, ainda que comercialmente, tem sido uma alegria para mim.

A pandemia arrancou de nós, além da qualidade de vida, bem-estar e tranquilidade: a alma do brasileiro (que é sua interação social).

Tudo traz agonia: país se desmantelando sócio-politicamente, violência de toda sorte e de toda parte, “presidente” IRRESPONSÁVEL – melhor seria dizer: responsável, em razão de sua negligência, por mortes de milhares de irmãos –, gente passando fome, gente sem emprego. E, como se tudo citado não fosse suficientemente dolorido, o isolamento é a coisa mais agonizante do primeiro quarto do século 21.

Não deve pensar o leitor, em momento algum, que estou reclamando da necessidade de se manter o isolamento sócio-sanitário. Pelo contrário, se estou a comentar sobre esse período é porque tenho respeitando-o. minha queixa, ou constatação, é sobre o quão cansativo está sendo tudo isso… e o pior: não temos a menor previsão de quando isso acabará.

Tenho para mim que a nação não se recuperará tão cedo desse episódio tragicamente fatídico que o destino (covid-19) e a continência (descaso do “presidente”) nos impuseram. Penso mesmo que, quando esse demoníaco episódio acabar – eu tenho fé que acabará! –, as pessoas beberão tanto, que outro problema social se desencadeará.

Está todo mundo, ou pelo menos os que têm um pingo de bom siso, está em isolamento ou interagindo com o mínimo de pessoas possível.

Eu, particularmente, não vejo meus amigos há pelo menos um ano e meio, salvo dois ou três – e se eu forçar muito a memória, o número aumenta para quarto pessoas – que mantive contato quase que por acaso.

Não pensava que eu me afetaria com tudo isso. A bem da verdade, me sentia muito misantropo para vacilar com esses eventos. Mas, menti pra mim mesmo. Tenho me afetado, e muito, com tudo que a pandemia, e seu corolário, tem despertado.

Tenho sentido cansaço. Sei lá, também sinto certa raiva generalizada: presidente estúpido – veja, é a terceira vez que o cito –, parte da população que não respeita o isolamento, falta de avidez social para combater esse caos – porém, devo dizer, após o dia 29 de maio, os ventos tomaram outro rumo! –, inércia dos congressistas diante da dizimação de seu povo… são tantas coisas que me trazem canso e raiva simultaneamente.

Diante da minha insignificância, tento não definhar completamente. Faço de situações simples verdadeiras apoteoses – sempre quis usar essa palavra. Sim, me sinto um convidado em uma festa dos deuses. Porém, no fundo, no fundo ou no raso, sei que apenas estou na mercearia da esquina.

Não vá ao mercado aleatoriamente. Mas, quando for, por necessidade, “festeje”. É o máximo de interação social que terá – aos menos os que têm cumprido as medidas sanitárias. Porém, por favor, tome cuidado para que a festa de êxodo não se torne uma festa fúnebre.