No último dia 25 houve um caso explícito de racismo no interior do Natal Shopping. Duas amigas foram comemorar o aniversário de uma delas, nesse estabelecimento. Sentaram-se à mesa para lanchar e papear. Estavam comemorando a vida. Havia um fascista branco no local, fazendo uso de seu computador. Um casal de namorados chegou ao local onde estavam os três personagens históricos – e mais um monte de gente.
Por alguma razão, o fascista se sentiu ofendido com a presenta de pessoas negras e, ao mesmo tempo, autorizado a destilar frases CLARAMENTE racistas, após uma das moças mencionadas olhar para ele. Não suportando as ofensas racistas, o rapaz que estava com sua namorada, que era negro de pele clara, foi tirar satisfação com o fascista, como reação esperada de quem é agredido, ainda que genericamente.
Parte da discussão está toda filmada e pública para todos tirarem suas próprias conclusões. O rapaz era forte e estava indignado com o fascista. Este, na ponta de sua arrogância, tentou argumentar que não tinha sido racista. Tinha usado uma “metáfora” sobre o Brasil. O rapaz insistiu que ele era racista. Mas, o fascista branco continuou com sua arrogância, aos gritos, mas sentado, pois, não ousou a se levantar diante da ameaça real que nosso irmão representava. Ele insistiu que tinha “direito de expressão”, afinal, dizer “negrada maldita” é liberdade de expressão agora – pode um troço desse? No Brazil, sim!
Como não sou jornalista brasileiro, que finge imparcialidade de imprensa, trato logo de dizer que o irmão estava certíssimo – fica subentendo que não me refiro a todos os jornalistas. Solidarizo-me com sua indignação e reação. Digo mais, a sorte desse racista foi que ele estava nesse estabelecimento aí, se fosse à rua, certamente ele teria sido linchado – uma pequena menção compensatória pelo que os brancos estadunidenses fizeram com nossos irmãos pretos daquela terra de malditos.
Quando o irmão agiu, manifestou toda nossa indignação. Agiu por si, pelas moças que estavam sendo agredidas no local e por toda comunidade negra brasileira e do mundo.
Por aqui tem um adágio popular, que é até um pouco insensível e preconceituoso, que qualquer norte-rio-grandense sabe e usa: “remédio pra doido é cacete”. Ao esvaziar a carga negativa e preconceituosa desse provérbio, poderíamos facilmente aplicar essa lógica, fazendo a seguinte adaptação: “remédio pra racista é cacete”.
A recomendação, por óbvio, é relegar esse ser horrível ao ostracismo e ao isolamento social, como um vírus que é, já que por essas terras brasileiras e no mundo, ocidental o branco pode tudo.
Ninguém iria lembrar que ele foi racista. No máximo, iriam dizer nos jornais que, por ter tido a impressão de ouvir uma fala racista, homem preto avança e deixa um indefeso senhor branco acamado. Os mais ousados diriam que, apesar de ter tido uma fala supostamente racista, nada justificaria tamanha violência – como quem sugere que todo negro é violentamente igual, para, por corolário, sugerir que somos todos bárbaros, portanto, selvático no pior dos sentidos.
O irmão agiu muito prudentemente. Com toda certeza, falo como se eu estivesse na mesma situação; se fosse em outro lugar, esse racista já estaria com as orelhas quentes. Porém, o irmão usou a prudência que a história, passada e recente, nos legou. Pois, veja você, se ele roda a mão no racista ali no shopping, a imagem que teria sido veiculada era a de um homem preto grande, forte, estraçalhando um senhor branco de meia-idade. Como sabemos, o mesmo policial que estava presente no local e conduziu o fascista à delegacia, poderia ter “autuado” nosso irmão. Isso se não o matasse durante o ocorrido ou no caminho para a delegacia – isso se os seguranças já não tivessem dado conta de fazer o serviço sujo primeiro –, como tem ocorrido, infelizmente, com muita frequência nesse Brazil.
Nossa história de resistência não vem de hoje. Não é de hoje que lutamos pela vida. Há muito sabemos, como diz o poeta, que sobre às águas que tudo arrasta se diz que são violentas, mas, nada se diz acerca das margens que lhes oprimem.