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Assim disse o Messias: “não pensem que eu vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”

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“[…] E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão… Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra… Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á”.

Mateus 10: 21; 34;35;37;39

Uma das passagens bíblicas mais controversas, que tem sido arena de arenga entre vários teólogos, pastores e entusiastas, os versículos de Matheus, que têm o episódio que Jesus manda seus evangelistas apregoar as boas novas, se materializam na realidade brasileira.

Esses versos dizem respeito aos sofrimentos pelos quais padecerão seus discípulos e às contendas entre familiares que enfrentarão, em nome do Reino dos Céus. Neles há a advertência de que é preciso enfrentar o mundo em nome do evangelho. Seguir seus passos pode sair muito caro, diz o Mestre: pode custar a própria vida. Mas, há um galardão esperando por todo aquele que nega o mundo (amigos, familiares, reis e governadores) e morre em Seu nome.

Outro dia, ao passear pelo Twitter, li um “thread (fio) muito triste. Uma moça se queixava de ter brigado com sua mãe, porque disse que votaria em Lula, em uma eventual disputa entre ele e Bolsonaro. Ela estava estarrecida, porque sua mãe gritou com ela, insultando-a com toda sorte de palavrões, dos quais fico rubro até de pensar, o que dizer mencionar. Ela estava chocada, porque isso nunca tinha acontecido em sua família, apesar de ter um irmão também bolsonarista. De acordo com ela, eles sempre se respeitaram.

Eu realmente consegui sentir o desapontamento dela. Mas, não era, a meu ver, um desapontamento meramente vinculado à ideia de romper uma relação por razões políticas. Seu desapontamento, dava para se notar, dizia respeito à idolatria. Digo, veja, em nome de um cara que jamais viu, a mãe da moça simplesmente desatou a xingá-la, porque se sentiu ofendida pelo simples fato de sua filha dizer que votaria em Lula – entenda que para os bolsonaristas, dizer que vota em Lula é o mesmo que xingar suas mães; eu já o citei três vezes, estou com medo de alguém me xingar também, mas, juro, não sou lulomaníaco, nem o tenho como figura divina.

O destino, ah, o destino, sempre nos pregando peças! Bolsonaro é um fenômeno sociológico. Pegaram-no como representante do que tem de pior nos seres humanos, e ele aceitou sua missão de espalhar seu “evilgelho”. Seu nome é Jair Messias Bolsonaro. Seu nome do meio, associado às políticas do atraso e agendas costumeiramente perversas e falas racistas e preconceituosas, fizeram dele um agente do caos, idolatrado, literalmente, por seus seguidores e discípulos – em princípio, o Messias às avessas.

É como se ele, imitando distorcidamente Jesus, tivesse tomado para si a missão de destruir tanto a economia e a saúde pública, quanto as relações humanas brasileiras. Não, não estou exagerando. Além de ele ser a favor da guerra civil – leia-se: matar pobres pretos para agradar a elite brasileira, que daria dois braços e duas pernas para fazer parte de uma subclasse estadunidense –, conseguiu imprimir a mensagem que quem segui-lo deve levar seu fardo, porque, em seu nome, terão aflição.

Como um tipo de delírio e alucinação fora do tempo, seus seguidores, digo, eleitores devotos, ignoram a realidade e veem coisas que não existem. Se forçarmos a barra, são quase poéticos. “Colocam coisas onde não cabem e tiram de onde não tem”, parafraseando um dizer atribuído ao poeta Pinto do Monteiro.

Eu nunca vi, em 20 anos de consciência de mundo, amigos saírem no soco, pais brigarem com filhos, filhos ameaçarem pais por divergências políticas, com tanta frequência como tenho visto nesses últimos anos. Em 2018 eu pude presenciar vários shows horrendos. Eu mesmo já perdi várias amizades por conta de Bolsonaro. Veja só, perdi amigos que cresci junto e outros que vi nascer, porque estávamos de lados opostos.

No início, eu achei que era bobagem perder amizade por conta de discussão política. Depois, percebi que não se tratava disso. A coisa era mais séria. Bolsonaro não representa um ponto de vista político, mera e simplesmente. Ele representa um caráter social horrível. É uma criatura absolutamente indefensável, a ponto de fazer com que questionemos o caráter de quem o defenda.

Além do mais, é muito estranho e esquisito ver irmãos “entregando uns aos outros à morte” – por ora, se trata só de um exagero de escrita de minha parte; por enquanto – , as noras rompendo relações com as sogras, os cunhados se estapeando, por defesa a um cara que odeia a vida (de pobres pretos, que é quase um pleonasmo) e espalha o horror.

O tecido social brasileiro foi rompido. Mas, aqui faço “justiça” a Bolsonaro. Ele não é responsável por esse mau-caratismo estampado nas pessoas. Ele apenas o elucida, ou evidencia, se quiser. Porém, é de sua inteira responsabilidade o genocídio que tem cometido; dele e de seu séquito, com a anuência de parte da população brasileira.

A mesma decepção que a moça sentiu, eu também sinto. Às vezes, quero ser mais “racional” e esquecer que esses lobos, travestidos de cordeiros, digo, de cristãos, são pessoas intragáveis, que chegam a envergonhar a humanidade. Todavia, paro e penso: não, eu não posso recuar, esses tipos humanos não devem pensar que suas atrocidades são comuns, especialmente em nossos dias, e não importa que se digam cristão, pois, o histórico desses não os ajudam – quem não os conhecem, que os comprem!

Precisamos romper com esse ciclo de violência e intriga intrafamiliar. Bolsonaro deve ser banido da vida pública brasileira, como persona non grata, porque é o coração que bombeia o ácido que corre nas veias de seus representados. Talvez, com o tempo, possamos curar nossas feridas e sermos uma “Grande Família” novamente – que briga por qualquer razão, mas que acaba sempre pedindo perdão.

Enquanto essa reconciliar não vem, continuemos a não tolerar os seres abjetos que nos rodeiam, cujas bocas estão salivando de ódio e as mãos estão teologicamente ensanguentadas, porque aceitam e participam do que esse presidente tem feito e falado.

Mas, para terminar, e voltar ao início, a anunciada controvérsia, sobre as palavras de Jesus, é falsa. Quando ele disse que veio para trazer a espada, e não a paz, estava se referendo às aflições pelas quais seus discípulos passariam em seu nome. Ele usou essas expressões para que seus discípulos entendessem, como dizemos aqui entre nós, que “o coco é seco”, “o jogo é duro”, diria seu Chiquito.

Entretanto, se Jesus foi denotativo em suas palavras orientativas, Bolsonaro é inteiramente conotativo em tudo (gestos, palavras, comportamentos). Não há dúvidas que representa, parafraseando Barroso, por ocasião de uma querela com Mendes, o mal com atraso, com uma enxurrada de psicopatia.

“Se você é a árvore grande, nós somos machado pequeno; afiados para derrubá-los, preparados para derrubá-los”, dizia o Mestre Roberto. Ouçamos essas palavras e as interpretemos da melhor forma possível.

Amém!