Proponho a lei da entropia social que defende que todo sistema social macroscópico tende a desordem, mesmo que a repressão mantenha provisoriamente a ordem, a energia consumida só acelerará o processo entrópico. A entropia social explica a falência de alguns países em acatar as determinações da OMS em plena pandemia, explica também porque o governo federal possui mais dificuldade do que os estaduais e municipais em administrar a crise e porque temos um secretário-geral da ONU e um presidente do Brasil que lidera no vazio. A mesma entropia que explica a ordem do império romano de Augusto, seguido da repressão de Tibério e da desordem de Calígula. Criem uma ordem intergaláctica e logo estaremos em um Star Wars. O vírus apenas acelerou uma falência inevitável destas instituições, com o azar de termos um Calígula na presidência. Não foi a primeira vez que a peste precede a queda, foi assim na Atenas de Péricles, na decadência de Constantinopla, na derrocada europeia com a gripe de 1918 em plena grande guerra. Depois da crise novos ordenamentos macropolíticos surgirão, melhores ou piores.
Para nos livrar das tormentas dos regimes macropolíticos, da inconstância e imprevisibilidade de sua dança cósmica de criação e destruição de novos ordenamentos, precisamos valorizar nosso microcosmos, a micropolítica atômica de bairros, comunidades, municípios, distritos, bacurais. Olhar a política de perto, o político no rosto, mesmo que em uma tela. Na localidade podemos construir de modo mais duradouro e constante, podemos ser mais decisivos nas deliberações públicas e mais efetivos nos movimentos sociais. Cada localidade deve se preparar por si própria para enfrentar essa crise, deve se integrar para manter o isolamento. Cuidar do próximo mesmo na distância. Sendo assim, quando pudermos estar próximos novamente, após a tormenta do isolamento, estaremos mais unidos. Na dúvida sobre qual previsão do tempo será a mais acertada, melhor reforçar nossos telhados.
Na localidade cada vida importa.