Coisa importante é estranhar. O mundo que não estranha não encanta. Devemos presentear o próximo com um olhar de estranhamento, para que continue nos encantando. Na etimologia estranho está ligado ao exterior, extra, algo que vem do estrangeiro. Mas cuidado, o olhar de estranhamento sobre o outro pode atrair ou repelir. Quando é força de repulsão reforça os vínculos já existentes, excluindo o outro em nome da identidade. Quando é força de atração nos move em direção ao outro, ao exterior, nos impelindo à alteridade. O estranhamento que leva à alteridade forma o esquisito. O ex-quirere é aquele que busca, que quer o exterior. Tem vontade de tudo aquilo que está fora do atual horizonte. Mas nem todo estranho é esquisito. Explico: estranho é o que vem de fora, mas nem tudo que vem do exterior causa estranhamento. Há o estranho que não estranha e o esquisito. No centro de uma pequena cidade costuma vir um pessoal do sítio, são estranhos, de fora, isso é perceptível, mas para grande parte dos habitantes do centro eles não são esquisitos. Muitos na cidade possuem parentes que se vestem como o pessoal do sítio, falam como eles, as vezes até mesmo seus pais e avós ainda se portam assim. Logo, para as pessoas que habitam o centro da cidade, eles são estranhos, pois são de fora, mas não são esquisitos, são familiares. Assim, podemos distinguir o estranho cêntrico, que é de fora mas não causa estranhamento; e o estranho excêntrico que é de fora e esquisito, o estranho que causa estranhamento. O esquisito é o que escolhe diferente, que tem um gosto peculiar, por isso o amor ao longe, sede do exterior. Sua peculiaridade o torna excêntrico, pois seu gosto raro o desvia da média, do centro, do vulgar.
Estranhar o cotidiano, o comum, mas não estranhar o esquisito, o excêntrico. É preciso amar o que está fora, vagar pelo extra sem ser extravagante. Quando o olhar para fora é desmedido ou serve para alimentar a vaidade, temos o extravagante. É preciso ser esquisito sem ser extravagante. O esquisito que é empático, que alimenta o pathos pelo outro, é um esquisito que não é esquipático. É preciso estar presente, ter paixão pelo local, mas não ser provinciano. É preciso também buscar o estrangeiro, mas estar presente, não ser deslocado em seu local. O esquisito que está presente no seu local cuida de si na medida em que enriquece seu espírito e amplia seus horizontes, também cuida do outro quando o faz conviver com a alteridade, resguardando-o da imobilidade e da identidade que gera ódio e xenofobia.