Por José Neto Barbosa
O que mais tenho vivido com “A Mulher Monstro” agora, depois de toda a repercussão do espetáculo, é uma censura “institucionalizada”. E isso aqui é apenas um relato, um desabafo. O medinho que produtores, curadores e programadores ficam ao escalar uma obra que fale diretamente de política e relações sociais. Embora não seja só disso que minha peça fale. Torna-se cada vez mais difícil, pra não dizer impossível, estar em festivais, mostras, projetos de circulação, ocupação de teatros patrocinados ou de instituições. Difícil sair do estado de origem, difícil continuar chegando em outras cidades.
Antes a dificuldade era falar a língua deles, ser do círculo de amizade, pra não dizer panela. Agora o problema também tá no teatro que se diz. E normalmente essas pessoas são as mesmas que dizem essas frases de efeito que nascem da nossa esquerda, que bradam palavras de ordem, mas que no fundo, agora, para além de se fechar ao próprio círculo afetivo, se preocupam em não perder o emprego, em não buscar nada que seja “polêmico”. Seguem caladas na prática, omissas.
Agora o problema também tá no teatro que se diz.
A saída, para eles, é apenas vender um teatro nordestino inventado, marrom, rimado, com cores terra, mambembe, que fale da seca, com músicas regionais, engraçadíssimo e baseado no sofrimento do sertanejo. Não que eu queira atingir os que optam por fazer esse teatro, acho legítimo e super batalhador. Mas só se pauta o aceitável, já autorizado pela massa e pela televisão.
A omissão também tá com a mão suja de sangue.
Tá me dando uma certa preguiça com asco. Sigo, e não é de agora, com minhas produções de forma independente e não menos RESISTENTE (parem de banalizar essa palavra, seus canalhas). Precisamos de uma reexistência. Agora eu consigo entender algo que sempre me perguntava ao estudar o período da ditadura militar brasileira, anos que não vivi: como é que o país passou tantos anos vivendo aquele inferno? Tá aí a resposta. A omissão também tá com a mão suja de sangue.