Inicio hoje uma série de artigos de opinião sobre exemplos de boas práticas acadêmicas que a universidade pública deve valorizar. Por “boas práticas acadêmicas”, entendo aquele conjunto de ações desenvolvidas por docentes que qualificam e elevam a excelência da cultura de ciência e inovação tecnológica da universidade. E um exemplo de boa prática acadêmica é a realização de atividades de extensão universitária.
Para quem convive o cotidiano institucional de uma universidade federal, como eu, sabe muito bem que a atividade de extensão é muito mais do que uma ação de intervenção acadêmica junto a uma comunidade local na resolução de determinados problemas sociotécnicos imediatos. A atividade de extensão universitária também se justifica enquanto estratégia institucional de “divulgação científica”, isto é, de compartilhamento público de resultados e produtos gerados – parciais ou conclusivos – de pesquisas em andamento ou finalizadas na universidade. Como divulgação científica, possibilita posicionar a ciência no debate público da sociedade. Como “política” de/da ciência, a divulgação científica por meio da atividade de extensão também gera benefícios internos e externos aos que participam dela. Melhora a comunicação pública da universidade e também inspira o público leigo com a imaginação científica, educa e contribui para produzir e generalizar compromissos de valor com a cultura científica.
Um modo prático e eficiente de inserção do conhecimento científico na esfera pública e de informar a sociedade local e nacional acerca do trabalho científico desenvolvido por professores-pesquisadores das universidades públicas. Mais, uma forma de “prestação de contas” do cientista que recebe financiamento público para as suas pesquisas. E, com efeito, é um momento importante na estratégia de legitimação social da existência da universidade pública em nosso país.
Compreendido nesses termos, não é razoável que agentes institucionais da universidade criem obstáculos ao exercício da atividade de extensão, impondo a oferta pessoal de disciplinas sem consulta e interlocução orientada para entendimento mútuo, resultando em choques de horários entre atividades de ensino em sala de aula e atividades de extensão. Hierarquizando as práticas de ensino presencial em sala de aula, pesquisa e extensão, onde o ensino de sala de aula é compreendido como a prática pedagógica mais “nobre” e “importante” da educação universitária. Desconsiderando, assim, não somente imperativos institucionais que são da própria política de desenvolvimento institucional da universidade, mas também o componente de ensino-aprendizagem que é constitutivo da atividade de extensão.
A boa prática acadêmica pressupõe um ambiente institucional que celebre o esforço diário de docentes que procuram elevar e qualificar a imagem da universidade pública na forma de atividades de extensão. Afinal, atividades de extensão não são “perfumarias” de acadêmicos, mas um dos componentes fundamentais do modelo “tripartite” de atuação de excelência acadêmica na universidade pública: “ensino, pesquisa e extensão”. E docentes comprometidos na prática com a realização plena de atividades de ensino, pesquisa e extensão devem ser celebrados pela instituição da universidade.
Na UFRN, por exemplo, a atividade de extensão, corretamente, é mencionada pelo menos em duas “metas” (“12” e “14”) de seu Plano de Desenvolvimento Institucional. O que significa, ao mesmo tempo, compromisso e responsabilidade institucional com ações docentes de realização da atividade de extensão. Como disse anteriormente, um imperativo institucional que deve ser afirmado e confirmado, pelo docente e pelo gestor da universidade.
No momento em que a opinião pública exige que a universidade justifique racionalmente sua existência, a prática de extensão universitária torna-se ainda mais estratégica politicamente. Ao permitir uma relação de proximidade e interlocução mais direta com o público não acadêmico, o docente engajado na atividade de extensão deve ser encorajado e celebrado como parceiro fundamental na renovação dos consensos coletivos generalizados sobre o papel civilizatório da universidade. Portanto, secundarizar e subalternizar as práticas de pesquisa e a extensão em favor exclusivo do ensino presencial em sala de aula não é somente criar obstáculos ao exercício efetivo da atividade acadêmica universitária. É um retrocesso e uma estupidez política.