Ontem, dia 14, por volta das 19h, em frente ao prédio da Biblioteca Central da UFRN, duas viaturas da polícia militar do RN e uma dezena de policiais, na calçada do prédio, deixavam aqueles que por ali passavam se interrogando do fato. Que teria ocorrido? Um assalto?
Se não é do conhecimento de todos, ao menos de grande parte é conhecida a proibição legal – e em todos os países onde não vigoram ditaduras é assim – que impede a presença de forças policias nos campi das universidades públicas. As polícias (federal, civil ou militar) somente podem se fazer presentes nos casos em que forem oficialmente convocadas pelos reitores e mediante justificativa legal. Por essa razão, quem estava no campus central da UFRN ontem à noite e pôde ver a cena indagou-se sobre o fato.
Pois bem, a polícia militar estava lá destacada para “assegurar a exibição do filme Jardim das Aflições”, que versa sobre o pensamento e a pessoa do assim chamado “filósofo” Olavo de Carvalho, besta fera do pensamento de direita hoje no Brasil. A exibição do filme fazia parte de programação organizada pelo Instituto Felipe Camarão, entidade da direita política de Natal, que decidiu provocar a UFRN com outras iniciativas, tal como prever a palestra sobre “Cura gay”, com Mariza Lobo, para o dia 7 de dezembro. Iniciativa que mereceu o repúdio de 34 entidades científicas e acadêmicas do país, que subscreveram Nota de Repúdio publicada também na Carta Potiguar.
O que todos nós que fazemos o RN e a UFRN queremos saber é: quem tem a responsabilidade pela presença das viaturas e policias ontem no campus central? Viaturas não chegam à parte alguma sozinhas. Se ali estavam, tiveram um comando. Qual foi esse comando? O comando da polícia militar do RN? Com a palavra o coronel Osmar Oliveira e também com a palavra o governador Robson Faria!
A lenda urbana já começou a produzir suas narrativas. Estão dizendo que a decisão foi de um agente da polícia federal que seria apoiador de Bolsonaro e que estava entre os presentes, como interessado na exibição do filme. Teria sido ele quem teria chamado a polícia militar. Difícil imaginar que um agente da PF tenha tamanha ousadia, sabendo da responsabilidade que recairia/recairá sobre seus ombros. Com a palavra a Superintendência da Polícia Federal no RN!
Mas, se tudo ocorreu como contam os boatos, alguns que já se apressam em dizer que se trata do “Estado de Exceção” em atuação, o que resta a provar, temos ainda que entender qual o conhecimento da reitora Angela Paiva Cruz sobre o caso. A reitora consentiu a presença da PM? Tudo foi feito sem seu conhecimento e autorização? Com a palavra a reitora da UFRN!
O que não pode acontecer é esse episódio (e que seja apenas um episódio isolado!) ficar sem o necessário esclarecimento. Hoje, é feriado da proclamação da República. É dia propício para os agentes públicos, com funções de comando, esclarecerem se estamos mesmo numa República, na qual vigoram leis que asseguram a legalidade das ações e estas mesmas leis preveem punições para quem as desobedecem, ou se estamos é num país no qual molecotes de direita são capazes de desafiarem a reitora de uma universidade pública e ficar por isso mesmo!
A ocasião de flagrante provocação da direita de Natal à UFRN exige que a reitora Angela Paiva Cruz também suspenda a palestra sobre a “Cura gay”, prevista acontecer no campus central. Um outro exemplo de afronta e desrespeito intolerável à Universidade, ao pensamento científico e aos direitos de milhares de gays, lésbicas e transgêneros que não esperam ver a UFRN consentido discursos de rebaixamento da dignidade e do reconhecimento de muitos daqueles que ali estudam, trabalham, ensinam, pesquisam, contribuindo com a educação e a ciência no RN e no país.