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Tiradentes e a dissolução do herói

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Hoje é dia de Tiradentes, esse grande herói nacional inventado pela República positivista, militarista, nascida do golpe, empunhando palavras de ordem e progresso, o Estado messias que matou Antônio Conselheiro criou seu profeta. Tiradentes foi tão líder da Inconfidência, quanto Rafael Braga foi líder dos protestos de Junho de 2013. Em um movimento amorfo é preciso criar um herói, alguém para sacrificar ou adorar.

Mas o mundo está estranho, mudando, o país está dissolvido, desmancha no ar, viver em uma época de mudanças é mais que um privilégio, é uma responsabilidade. Em épocas assim a indiferença é perigosa, é entregar na mão do outro a caneta que desenhará seu destino, de seus filhos, é preciso participar.

Dizem os jornais, e intelectuais, que a apatia, esse mal-estar, vem da falta de líderes, que falta quem nos conduza, renovação é a palavra de ordem. Renovar novos atores para a mesma tragédia. Trocam o palco, renovam o cenário, pintam o teatro, mas os mesmos dramaturgos reescrevem as mesmas peças.

Falta de líderes não é nossa fraqueza, ocaso, nosso inimigo, é a ordem do dia. Mas isso não ganha votos, nem devotos, aí tentam abafar, esconder, dizer pra você esperar: “Ele já vai chegar, o nosso líder”, novo ou velho, está vindo ai, 2018 é logo ali, em breve o mito, o messias, vai nos salvar.

Dizem que a rede não vale de nada, ou só vale se é uma rede centralizada. Não é uma decadência da política, é uma dissolução, derretem os líderes, os heróis, os partidos, as ideologias, os movimentos sociais. O fluido, o líquido, espalha mais facilmente, atinge uma área maior, como consequência não se permite ser agarrado.

Robôs tentam tecer a rede, curtem, comentam, compartilham, patrocinam, influenciam, mas só dura um momento, depois derrete, se espalha, arrefece. É preciso entender que agora o poder não se deixa agarrar, quanto mais apertar, escorre entre os dedos.

Novos Tiradentes se candidatam, na política, na mídia, no judiciário, se apresentam e dissolvem no ar. O crepúsculo dos ídolos não é um castigo, é preciso aceitar. Não é uma crise de lideranças, é uma oportunidade de se libertar. Que se enterrem os heróis, as lideranças, a liderança. Menos autocracia, mais autonomia, é preciso se adaptar.

Que venham as pequenas utopias, do nosso dia a dia, sejamos nosso exemplo. Contribuindo com a rede, no perfil, família, amigos, colegas, trabalho, intermediando ligações, informações, passando a agulha na esquerda, na direita, em cima do muro, vamos unindo tudo, construindo um futuro mudando o presente, tecendo uma rede com milhões de mãos.

2018 que espere, façamos nós!