Na atual situação de crise no sistema carcerário, conflito entre facções do crime e de escassez de sensatez nas falas desequilibradas de autoridades de segurança pública do RN, o Arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha se apresenta na esfera pública local como um gigante moral e faz um apelo ao senso cristão de compromisso com a dignidade humana e de sensibilidade diante do sofrimento do outro.
Sua postura e da Pastoral Carcerária de não se deixarem contaminar pela corrente coletiva de ódio canino e de vingança é hoje a principal fonte de resistência civilizatória na esfera pública do Rio Grande do Norte. Feliz de saber que ainda temos uma reserva moral em nosso estado na pessoa de Dom Jaime. Sua postura é o despertar de um potencial universalista inscrito no humanismo cristão que anda adormecido nas mentes e corpos de outros cristãos. A ideia da “vida como dom” é um dos ideais de “avaliação forte” mais intensos e poderosos do cristianismo. Principalmente pelo seu potencial de descentramento moral, autodesfronteirização, abertura e assimilabilidade de experiências traumáticas vividas por outros, inclusive por não-cristãos. Ideal moral nem sempre articulado ou rearticulado pelos próprios cristãos e, portanto, passível de ser esquecido e perdido pelas ruínas silenciadas e inarticuladas de uma tradição. Medíocres são os cristãos e não-cristãos potiguares que enxergam um “populismo” ou “idealismo” ingênuo nas palavras de Dom Jaime.
Não é apenas uma razão comunicativa que guia Dom Jaime, mas uma verdadeira comunicação referente a valores que se expressa em suas palavras. E essa comunicação referente a valores é tão objetiva e “realista” quanto a comunicação racional. Inspiradas por comunicações referente a valores, sociedades humanas não somente “moveram” montanhas, mas produziram novas realidades societais, dentre as quais, a inclusão social de grupos outrora marginalizados. É esse potencial de aprendizado moral que a miséria da esfera pública potiguar e, em consequência, a miséria da sociedade não apreendem. Neste tempo em que crescem e se difundem versões “individualizadas” e “particularistas” da experiência religiosa (cristã), Dom Jaime resiste e nos lembra de outra faceta, comunitarista e universalista, do cristianismo.
Nota do Arcebispo de Natal sobre a situação da Penitenciária de Alcaçuz
Irmãos e irmãs,
Acompanhamos, com muito pesar e tristeza, os últimos acontecimentos ocorridos na Penitenciária Estadual de Alcaçuz. Nossa prece e atenção por esses momentos trágicos de violência e de morte. Sem dúvida, é necessária uma urgente reflexão sobre as condições dos nossos presídios. Suplicamos ao bom Deus para que apazigue os ânimos daqueles nossos irmãos a fim de que renunciem à violência, e a sociedade e o Estado busquem o diálogo e encontrem caminhos para enfrentar a problemática que envolve o nosso sistema prisional. Em todas as missas, hoje, no momento da Oração da Assembleia, coloquemos nas intenções a súplica implorando a compaixão do nosso Deus por aqueles que perderam a vida e por todos os que se encontram nos presídios que, como bem disse o Papa Francisco, devem ser lugares de humanização e de esperança de mudança. Deve ser ideal de todos os brasileiros construir uma Pátria de cidadãos com oportunidades de vida digna, direitos e deveres para todos, e não uma Pátria de excluídos e marginais.
Natal, 15 de janeiro de 2017
Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal