“Sou jornalista esportivo há 26 anos por ser palmeirense há 50”. Foi assim que Mauro Beting justificou com maestria sua relação trabalho e paixão. Uma frase curta e direta que serve para qualquer jornalista esportivo do mundo, inclusive para esse que vos escreve. Sou jornalista esportivo há 9 anos por ser abecedista há 31.
A polêmica tomou conta da mídia e do falatório das torcidas nos últimos dias. Seria anti-ético assumir em público para qual time o jornalista esportivo torce? Isso pode afetar a credibilidade do profissional?
Tenho um tio jornalista, assumidamente alecrinense, inclusive é ex-presidente do clube Esmeraldino, mas nunca fui influenciado por sua paixão. Porque a paixão vem do berço. Nunca neguei que sou torcedor do ABC. Meu pai, ao me levar ao finado Machadão e às antigas dependências da Vila Olímpica da Rota do Sol me fez despertar tamanho amor pelo clube. O que vem de pai pra filho nunca, mas nunca mesmo, haverá de ser apagado da memória e da história de ser-humano algum.
Como escreveu Mauro Beting, não somos pagos para ser torcedores, mas sim para exercer o jornalismo, a arte de Gutenberg. Afirmo com toda convicção. Não é anti-ético, nem diminui a minha credibilidade assumir que sou abecedista. Existe o jornalista que torce e o jornalista que distorce. Aquele que distorce a informação, influenciado por sua paixão é um mal para a profissão.
Eu posso torcer, o que não posso é deixar de transmitir a verdade para o meu público. O que me dá credibilidade é exercer um jornalismo correto, verdadeiro, que compartilhe notícias e opiniões coerentes, embasadas em fatos e dados. É preciso, acima de tudo e qualquer preferência clubística, ser honesto com o torcedor.
Eduardo Galeano escreveu que “para o torcedor fanático, o prazer não está na vitória do próprio time, mas na derrota do outro”. Para o jornalista também. A diferença é que o prazer não deve estar explícito no seu desempenho profissional. Como disse com razão o jornalista Carlos Henrique, torcedor do CRB das Alagoas, “sei muito bem onde está a linha que divide um do outro”. Primeiro o trabalho, depois o prazer.
É tarefa difícil afirmar que num país como o Brasil, em que existem mais campos de futebol do que igrejas espalhados por milhares de vilarejos, não haja um torcedor dentro de cada um. Eu torço no meu subconsciente ou longe dos microfones. Seja do meu ou do rival, sendo verdade, falo bem ou falo mal. Meu clube também não é um urso pólar protegido por lei, alheio à críticas quando as merecer.
O bailarino, sorrindo e com um copo de cerveja na mão, diria sem pensar que o jornalista que não ama, não cuida. Que fazer jornalismo esportivo sem torcer, sem amar, equivale a dançar sem música. Não tem graça, é sem sal e monótono. Não tenho dúvidas. O jornalista precisa sentir o ambiente, entender e viver as emoções que o circundam para descrever o significado aproximado – porque a perfeição não existe – do futebol.
Afirmo e reafirmo. Não é anti-ético, nem diminui a minha credibilidade assumir meu time. Eu posso torcer, o que não posso é distorcer e deixar de transmitir a verdade para o meu público. O que me dá credibilidade é exercer um jornalismo correto, verdadeiro, que compartilhe notícias e opiniões coerentes, embasadas em fatos e dados.
Permitam-me agora parafrasear meu amigo Carlos Henrique: não revelar seu time do coração é direito do profissional, mas renegá-lo é ser desonesto com sua consciência moral e com aquele torcedor que o prestigia diariamente, seja na TV, no rádio, no jornal impresso ou na internet.
Repito, para ser um jornalista esportivo de credibilidade basta, acima de tudo e qualquer preferência clubística, ser honesto com o torcedor.