Em votação histórica, PT elege primeira vereadora na Câmara de Natal
Por Leonardo Dantas
Com mais de 6 mil votos, Natália Bonavides bate recorde de votos da legenda e poderá ser a voz feminina de esquerda no legislativo potiguar
“Quem é Natália Bonavides?”, era uma das frases que mais pipocava nos grupos conservadores de WhatsApp, ao identificar que a mulher que conquistara 6.202 votos não pertenciam a um sobrenome oligarca, nem era figura midiática ou candidato ligado às neo-oligarquias religiosas. Mas, para quem está presente nas discussões de pautas progressistas da cidade, a jovem advogada é um nome bastante conhecido, historicamente presente e respeitado.
Atual recordista de votos do Partido dos Trabalhadores na Câmara Municipal de Natal, superando os 5.447 votos de Mineiro no ano de 1996 quando foi eleito vereador, Natália iniciou sua trajetória política ainda como estudante de Direito da UFRN, hoje ela tem mestrado em Direito Constitucional pela UFRN. Esteve também presente na ocupação da Câmara em 2011 e foi uma das autoras do Habeas Corpus que impediu a remoção violenta dos estudantes da casa legislativa.
Vinda da luta junta aos movimentos sociais, Natália construiu sua candidatura de maneira participativa e com a presença massiva da juventude. “Eu sou apenas um rosto que representa um projeto coletivo”, diz a vereadora eleita. Quando se fala em “coletivo”, Bonavides se refere ao MST, ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), o Movimento de População em Situação de Rua, a Marcha Mundial de Mulheres, o Movimento pela Humanização do Parto em Natal, ao Sindicato dos Servidores Municipais de Natal, dentre outras pautas ligadas aos Direitos Humanos que ela assessora jurídica ou politicamente.
“Primeiramente Fora Temer”, foi com essas palavras de ordem, que Natália iniciou seu discurso logo após o resultado da apuração em seu comitê, na presença de familiares, amigas (os) e apoiadoras (es). Em meio a um avanço do conservadorismo não só na sociedade, mas nas instituições políticas, ela lembrou nas suas palavras quais pautas representa e o que motivou sua candidatura. “A gente fez essa campanha deixando claro que a nossa candidatura era formada por movimentos sociais, que é feminista, de esquerda, que somos contra o golpe, contra o machismo, racismo e que não admitimos LGBTfobia, nem fascismo. E foi com essa cara que a gente fez 6 mil pessoas acreditarem junto da gente que esse projeto ainda tinha muito para crescer”.
Natália fez questão de destacar que seu mandato será construído junto com os movimentos sociais e com quem vive as reais condições da cidade. “A história de conquista de um país melhor, é a história dos quilombos, das ocupações, das grandes marchas. A história de coletivos de pessoas”.
Apesar da renovação de quase metade da Câmara Municipal de Natal (46%), o cenário não é animador. Embora a bancada feminina tenha crescido, nomes importantes da esquerda como Amanda Gurgel (PSTU) e George Câmara (PCdoB), além de Hugo Manso (PT) não conseguiram manter suas cadeiras. O PT manteve suas duas cadeiras, com Fernando Lucena se reelegendo, e o PSOL conseguiu reeleger somente o presidente do partido, o sindicalista Sandro Pimentel.
“Assim como nossa candidatura, nosso mandato não deixará o conservadorismo falando sozinho, seremos uma voz contra o golpe e contra o retrocesso na retirada de direitos dos trabalhadores. Queremos construir uma cidade para as pessoas e mostrar para os jovens que ainda há esperança na política”.