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Migração dos CVLIS_de Natal para cidades da Região Metropolitana

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Estatísticas Promotoras de Soluções

Um dos mitos estatísticos que em continuaremos vendo dentro das análises estaduais, está a de que está havendo redução da criminalidade homicida em Natal, mas isso é apenas uma fatia da realidade cruel dos crimes contra a vida.

As mortes oriundas das condutas violentas letais intencionais, conforme estudadas e mapeadas pelo OBVIO, apresentam duas baixas relativas no ano de 2016 para o município de Natal, conforme vemos no quadro abaixo nos meses de janeiro e setembro.

Entretanto, Natal é a sede de uma metrópole, que como as outras metrópoles brasileiras, apresentam maior atrativo criminógeno e suas características urbana proporcionam maiores possibilidade de atrair ações criminais e retroalimentar a violência dos municípios vizinhos.

Região Metropolitana de Natal

Variação anual por municípios.

Modelos Migratórios

A partir do gráfico abaixo, que apresenta a variação da tendência homicida comparada entre 2014-2015 e 2015-2016, mais o quadro acima.

A partir desses dados, temos dois modelos migratórios.

1º Modelo. Direcional

Nesse modelo, o núcleo Natal que recebe evidência de policiamento da Força Nacional e das ações da DHPP, a Divisão de Homicídios, que atua na investigação homicídios apenas na capital, e faz o levantamento de local de crime para alguns dos municípios circunvizinhos.

Natal se torna o ponto de expansão dos crimes de homicídios para Parnamirim, que gera um modelo circular e que propicia a retroalimentação da violência.

A criminalidade homicida, tendo em vista os vários fatores que contribuem para sua alimentação e crescimento, não podem ser pensados apenas em um espaço geográfico isolado. Por isso, quando há o aumento da intensidade do combate ou da resolução de crimes em uma determinada área, sem que, ao mesmo tempo, se trabalhem as demais ao mesmo tempo, o efeito principal é a migração das atividades. No caso, toda a Região Metropolitana de Natal foi afetada, sendo o principal epicentro, pela sua dinâmica econômica e desestrutura em termos de Segurança Pública, a cidade conurbada pelo eixo sul, Parnamirim.

Principais municípios dessa modelagem migratória

Parnamirim é considerada, já há quase 20 anos, uma cidade dormitório, com inteira interligação com Natal através da Zona Sul desta cidade. Seu crescimento de atividades homicidas, cuja variação chega a 250% no mês de setembro, onde Natal obteve maior queda é significativo. Também é significativo o fato de que, foi exatamente na Zona Sul, onde essa queda foi menor em Natal, tendo sido observado um crescimento constante dos CVLIS nesta região desde fevereiro de 2016.

No mesmo diapasão, Extremoz segue com crescimento contínuo dos CVLIS, com aumentos de 250% e 100% nos meses de queda em Natal. Interligado à Natal pela Zona Norte da Capital, principalmente em sua fronteira com o populoso Nossa Senhora da Apresentação, Extremoz tornou-se espaço privilegiado do descolamento da criminalidade violenta e homicida.

Finalmente, São Gonçalo do Amarante, cujo aumento foi o maior, em sua fronteira com a Zona Norte de Natal, tanto pelo Bairro de Igapó, quanto pelo Bairro Nossa Senhora da Apresentação. SGA teve o maior aumento das cidades da Região Metropolitana de Natal no período entre agosto e setembro, chegando a 700% de aumento no último mês.

2º Modelo. Circular ou de Retroalimentação

Nesse modelo, o núcleo Natal não somente expulsa os crimes para as áreas limítrofes como também retroalimenta a dinâmica do crime.

Natal se torna o ponto de expansão e retroalimentação dos crimes de homicídios, que migram para suas periferias e para os municípios próximos.

Quando em Natal, as operações ou as ações integradas de segurança pública ocorrem, sem uma interligação e planejamento geográfico, pensando a sua Região Metropolitana como um todo, a tendência é que, na medida em que os delitos ou manchas criminais localizadas sejam combatidos, ocorra o fenômeno já apontado da migração e, também, a circulação ou retroalimentação. Como tanto os grupos organizados ou semi-organizados que atuam no tráfico de entorpecentes, nos assaltos e mesmo os grupos de execução, pistolagem e extermínio, não obedecem à fronteiras formais, ao mesmo tempo, uma dada ação em uma área afeta outras áreas próximas que, numa situação de conurbação ampla, se retroalimentam.

Expansão Criminal na RMN

As pontas externas ou limites da RMN e seu comportamento no modelo migratório.

Outras pequenas cidades da Região Metropolitana de Natal e do seu entorno não-conurbado também são afetados. São os casos de Maxaranguape, litoral norte, e de Ielmo Marinho e vera Cruz. Embora não apresentam aumentos absolutos, mantêm suas taxas contínuas como antes.

Quanto às cidades de São José de Mipibu, Nísia Floresta e Macaíba, verifica-se queda significativa nos CVLIS no mês de setembro, embora, como os dados apontam, nesses municípios os meses estão se intercambiando entre aumento e queda desde janeiro. O que pode apontar uma dinâmica mais complexa e uma dependência maior da dinâmica de outras regiões como Natal e mesmo São Gonçalo do Amarante e Parnamirim.

Conclusões do Estudo

Ao contrário do que fora divulgado extensamente pela mídia nos últimos dias, os dados acerca da criminalidade violenta e homicida no RN não pode e não deve ser tratado de forma isolada. Infelizmente, nos últimos meses, essa vem sendo a prática corriqueira dos órgãos oficiais da Segurança Pública, mais preocupados em mostrar dados positivos que, infelizmente, não condizem com a realidade em sua totalidade.

Como mostrado neste breve estudo, este Observatório aponta que dois fenômenos estão ocorrendo na dinâmica dos CVLIS na Região Metropolitana de Natal: a migração e a circulação. A primeira faz com que a redução ocorrida nos dois últimos meses na capital venha acompanhada de um brutal e vertiginoso aumento nos municípios circunvizinhos mais populosos e mais conurbados. A segunda, faz com que este fenômeno supracitado seja continuamente retroalimentado, e continue a ocorrer, fazendo com que a diminuição em uma região não corresponda à diminuição em outras. Ao contrário, ocorre um contínuo deslocamento e aumento nas áreas não trabalhadas com o mesmo afinco, planejamento e efetivo.

Como se diz no ditado popular: cobre-se a cabeça para se descobrir os pés.

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Migração dos CVLIS: de Natal para cidades da Região Metropolitana
Um estudo por Thadeu de Sousa Brandão e Ivenio Hermes