Cris Lucena #
Analogias entre Natal e a fictícia Gotham City são possíveis. Nos quadrinhos, a labiríntica cidade é palco da criminalidade ostensiva de arquivilões, combatidos pelo excêntrico Batman, misterioso personagem de poucos aliados. Como nossa cidade, Gotham foi fundada por mercenários estrangeiros e depois controlada por outro país. Por sinal, diz-se que Gotham foi inspirada na cidade de Nova York, também fundada por holandeses e, como a capital do RN, também chamada inicialmente de Nova Amsterdã. Outra curiosidade: à semelhança de Nova York, nossa cidade também lutou ao lado do governo dos Estados Unidos, já que foi ocupada por militares americanos durante a II Guerra Mundial.
.
Arquitetura
O aspecto sombrio e noir, dado por Tim Burton a alguns filmes da saga de Batman, nos lembra das deficiências no saneamento, iluminação pública, asfaltamento e desigualdade social constatáveis em Natal. Por uma infeliz coincidência, Gotham possui um ponto turístico chamado Parque Robinson, que nos remete ao epíteto do nosso atual e esforçado governador: “pretérito do futuro”. Durante a saga “Terra de Ninguém” (seria o nome de um mandato?), a esverdeada-partidária Hera Venenosa tomou o controle dessa área e manteve esconderijo no Jardim Botânico Giordano – quem mais se esconderia num jardim? Tempos depois, a vilã foi capturada e levada ao Asilo Arkham, hospital psiquiátrico dos super-vilões. Espero que cumpra a pena de 16 anos…
Mais uma das coincidências é a Ponte Metro-Narrows (Newton Navarro, é você?), que separa Metrópolis, a cidade do Super-Homem, de Gotham, do outro lado da baía.
.
Vilões
Como mostram os estudos de Elton Mayo na experiência Hawthorne, os grupos informais exercem liderança e influência dentro de grupos formais. Em nossa provinciana cidade não poderia ser diferente. Um exemplo disso são os sindicatos e facções criminosas que espalham terror pela cidade e ditam toques de recolher, agindo acima do Direito Constitucional de ir e vir dos cidadãos.
Entre os vários arqui-inimigos de Gotham está o famoso Pinguim, quem utiliza um clube noturno (eventos de entretenimento) como base de suas operações. Ele lidera uma gangue de vândalos com o fim de destruir a cidade. Também temos o Duas-Caras, promotor público que toma decisões baseadas numa moeda que é lançada para o alto – digamos que ele tem uma cara “alva” e outra obscura, por vezes visível à luz do dia. Outro vilão da cidade é o Mr. Freezer, que sofreu mutações químicas na Cidade do Sol e passou a incendiá-la com jatos de fogo*, contudo, “congelando” toda a sociedade e sua liderança, que “não têm mais o que fazer para melhorar a Segurança” – agindo assim como um atrapalhado Joker do baralho natalense.
E por falar em Joker, o personagem Jokester significa Piadista, isto é, o Coringa, o mais cruel, sarcástico e psicopático de todos os vilões de Gotham. Com um sorriso enigmático, o “homem que ri”** questiona a seriedade de suas vítimas***, desesperadas, e adora lançar piadas para amenizar o “estado de sítio” em que se encontra Gotham. O gênio do mal é perito em químicos, explosivos e armamentos temáticos, lidera assaltos a bancos e opera grandes valores a fim de promover o caos desenfreado. Afinal, “ser temido é melhor do que ser amado” (Maquiavel).
.
Heróis
No filme O Cavalheiro das Trevas Ressurge, Bruce Wayne, depois de reconhecido por sua heróica atuação na cidade, tornou-se vilão devido a uma onda de corrupção e violência que assolou Gotham City, quando o herói foi ojerizado publicamente. Sem o apoio das autoridades, Batman ficou isolado e impedido de proteger a cidade. Nessa fase, ele cunhou a célebre frase: “ou você morre herói ou vive o bastante para ver você mesmo virar vilão”.
Sabemos que morcegos não voam de dia e que nossa terra ensolarada carece de um salvador. Talvez pelo menos um Robin possa aparecer – no filme, Robin é o sagaz personagem que combate o crime e logo se alia ao homem-morcego. Em uma das versões do garoto-prodígio, está Dick Grayson, o mais obediente bat-assistente.
Talvez Capitão Styvenson reúna suficientes “santos” atributos para ser considerado uma espécie de Robin natalense. Com tantas falhas em nossa segurança pública, também não faltam candidatos para o cargo do Comissário Gordon – quem sabe o secretário de segurança ou algum oficial do exército possam ocupar o papel…
Seja como for, entre tantos vilões e a inexistência de um grande herói, o fim dessa história se torna uma grande “Charada”…
____________________________________________________________________________
Notas:
(#) Cris Lucena é estudante de Gestão de Políticas Públicas no IFRN-Natal (Unidade da Salgado Filho).
(*) Hábito que também remete a Prometheus, capaz de elevar a temperatura para várias centenas de graus Celsius e derreter a maioria dos metais.
(**) Personagem do romance L’Homme qui rit, de Vitor Hugo.
(***) “Por que tão sério?”: pergunta feita pelo Coringa antes de usar o tóxico Gás do Riso em suas vítimas. O produto causa morte quase instantânea e deixa a pele embranquecida e os músculos faciais grotescamente esticados – um semblante idêntico ao do próprio Coringa.