Eu se pudesse passava ali por todos os dias, estava ali por todos os dias. Eu desvio meu caminho na ida ou na volta e finjo que não estou gastando mais gasolina nem minutos, e dirijo mais, fico mais, vou devagar pela direita.
No meu lugar preferido da cidade, posso o ver o mar imenso, do meio para trás. Sem beira da praia. A beira da praia não preciso ver – não tenho tanta afeição assim por ela. Fico com o mar.
E no meu lugar preferido da cidade, eu vejo dias de mar azul bem claro. De azul escuro. E de azul escuro quase cinza, quando chove, quando nubla, quando vejo a chuva ameaçando vir do outro lado, de trás do morro.
Hoje o mar me era verde. E nunca aceitei muito mares verdes ao invés de azuis, azuis claros, azuis vivos. Verde nem é cor de mar, eu pensava assim quando era criança. E hoje sei que é, mesmo, mas finjo que é o mais diferente que pode ser: um mar bem verde e bem vivo, que amanhã pode estar em nova cor. E eu dirigia devagar enquanto podia olhar para a direita e vê-lo verde. Tons de verde.
No meu lugar preferido da cidade, consigo ver a chuva chegar, dirigir até de onde ela vem, vê-la cair por lá. Ou fazer o caminho inverso e abandoná-la, enquanto se chove de um lado da cidade e do outro não. Eu gosto da chuva, da chuva por cima do mar, nas cores azuis e verdes, principalmente de dia. Eu gosto de estar no meu lugar preferido da cidade quando ainda é dia.
E enquanto eu estiver aqui, enquanto eu estiver por aqui, tenho sempre de passar por lá, ver o mar e o céu, não as ondas, não a areia, muito menos pessoa alguma. Mas os mares e as cores, que sempre me dizem para ficar aqui, para ver os dias passarem por cima dessa paisagem, enquanto eu também passo, vejo novas cores dum mesmo mar, espero novas chuvas, não acelero o carro nem tempo nenhum, e faço pouco dos minutos a mais e do caminho mais longo. Merece. Mereço. Eu repito isso e me deixo levar. No meu lugar preferido da cidade, eu nunca penso em ir embora. Eu só penso em ficar.