Por Felipe Sarmento (Publicitário e taxidermista de samambaia)
Cocoricó. Fudeu! O meteoro ainda tá atrasado e temos mais 24 horas inteiras de humanidade e Facebook. Ah, o Facebook. Esta sublime máquina de converter boçais limítrofes em juízes, repórteres, cientistas e porta-vozes divinos. Um parque com duas filas, sendo uma para informações – geralmente vazia – e outra para opiniões – essa dobra a esquina.
Hoje, particularmente volátil e transbordando de chorume – devido a fatos aos quais evitarei menções diretas para não atrair os zumbis monoargumentativos do vírus midiático -, a rede social é palco de um misto de batalha teatral com micareta de igreja. A cada sarrada digital no mouse track, somos obrigados a contemplar um verdadeiro festival de sentenças à la Torquemada e conclusões psicodélicas obtidas na velocidade da luz. Nada de novo no front. No entanto, uma movimentação discreta, porém deveras bizarra, pôde ser notada no cantinho da lente do binóculo. Algo que, mesmo sem tanto alarde, lembra uma coreografia de MC Binladen executada à beira de um vulcão ativo ou uma roleta russa com armas e russos de verdade.
Refiro-me a algumas empresas – sobretudo bares e restaurantes -, que tiveram a fluorescente e oportunista ideia de usar seus canais de comunicação nas redes sociais como plataforma de desabafos “políticos” mal travestidos de propaganda.
“Em comemoração a esta sexta-feira maravilhosa, colocamos nosso prato Lula frita a milanesa com desconto de 50% no jantar no Taisho!” “Em comemoração a esta sexta-feira maravilhosa, colocamos os Anéis de Lula com 50% de desconto”. Pra citar apenas 2. Não bastasse a precariedade cômica e técnica – que analiso como um profissional de comunicação -, ainda há a absoluta falta de conhecimento do próprio público-alvo. Basta perceber a enxurrada colossal de feedbacks negativos se materializaram no espaço de comentários das postagens como fantasmas da AL-RN.
Cara, de boa. Nem com todo o esforço empático do mundo consigo entender como é que o sujeito, deliberadamente, através do seu ganha-pão, simplesmente assume uma posição política em um tema absolutamente controverso e polarizado, praticamente entrando no salão e mandando metade dos seus clientes embora tipo: “aqui não entra cliente petralha”. Eis que surge algo que o brasileiro médio venera mais que dinheiro, o ódio cego. Isso não é propaganda de oportunidade. A única oportunidade aqui, que era a de ficar calado, foi pro lixo, e está apenas aguardando as sobras de moluscos a milanesa para lhe fazer companhia.