Search
Close this search box.

5 mitos sobre o veganismo

Compartilhar conteúdo:

Há muito tempo que queria escrever sobre isso, pessoas me pediam para escrever sobre isso, mas sempre ficava com receio de fazer uma “anti-propaganda” do veganismo. Na dúvida, sou vegano, amo veganismo e é nesse “estilo de vida” que eu dá/faz sentido a minha humanidade. Então, sem mais, neste texto tentarei explicar desmistificar alguns mitos em relação ao veganismo. Espero críticas, por favor.

1) Se eu virar vegan, eu vou emagrecer?

Isso é bastante relativo. Eu tenho o metabolismo muito rápido. Se eu passar 1 semana sem comer nada de carboidrato, consigo perder uns 4 ~ 6 quilos. Isso não necessariamente acontece com todas as pessoas. Cada corpo reage de uma forma diferente.

Além disso, vamos analisar uma coisa: a pessoa passa a vida comendo só comida gordurosa, resolve virar vegetariana/vegana, ela irá parar naturalmente de ingerir quantidades absurdas de gordura; então, por isso, é claro que ela irá perder alguns quilos.

Quer emagrecer? Procure um/uma nutricionista e um/uma educador/educadora físico. Eles/elas podem te ajudar nisso com responsabilidade e sem comprometer sua saúde.

Ah não quer ou não tem condições financeiras de pagar? Tudo bem. Só um conselho: antes de parar de… esse conselho vai para o próximo mito.

perder-barriga

2) Veganismo dá anemia?

Não, não dá anemia, ou pelo menos, não deveria dar. Então, por que dá? Simples. O que eu falei no item anterior sobre metabolismo? Cada corpo reage de uma forma diferente e a principal dela é a mudança brusca na alimentação.

Não dá para se tornar vegan de um dia pro outro. Na verdade, isso não é recomendável nem se você quiser ser ativista. Isso é propaganda negativa. A mudança alimentar de forma irresponsável faz com que as pessoas de fora encarem a dieta como maléfica.

Falando por mim, passei 1 ano para cortar carne vermelha e mais 1 para cortar peixe (sempre detestei frango). Depois passei 8 anos para ser vegan. Poderia ser antes, mas não achava “necessário” ser. Quando percebi que não fazia sentido lactovegetariano, parei de consumir derivado de leite — que eu já consumia pouco.

Retomando ao conselho anterior: antes de parar de comer carnes e/ou derivados, comece a comer verduras e frutas. Pesquise para saber quais são as mais ricas em vitaminas, ferro, cálcio etc. – não, não vou dizer quais são; pesquisar é também uma forma de internalizar e naturalizar o veganismo.

3) É caro ter uma dieta vegana?

Claro que não. No entanto, temos que ter cuidado com isso para não cometermos preconceito de classe (por tabela racismo e gordofobia), algo amplamente reproduzido no meio vegano.

Quem é vegetariano/vegan há mais de 20 anos, principalmente, em cidade pequenas (como aqui em Natal) sabe o quanto foi difícil achar produtos nos mercados para fazer receitas. Obviamente que não havia quase nenhum (ou nenhum mesmo!) estabelecimento que tivesse sequer proteína de soja – que, na época, era a única fonte alternativa a carne (hoje, não é mais – aliás, para quem não sabe, boicotem a soja). Por conta disso, muitas pessoas (inclusive eu) aprenderam a se virar e a fazer comida. E detalhe: a internet não era popular e tinha beeeeem menos informações que têm hoje.

Atualmente, com a “enxurrada” de alimentos sem derivados de carne, ovos e lactose nos mercados, bem como os lanchonetes/restaurantes vendendo comidas veganas, as gerações atuais não se interessaram em cozinhar.

Nada contra a opção de não cozinhar. Não vou entrar nesse mérito; foi apenas para explicar. O que eu quero dizer é que muita gente ficou condicionada a ter sempre comida pronta. E é aí que entra o preconceito de classe.

Alimentos com restrição tendem a ter preço alto e isso acontece por alguns fatores, mas citarei só um: lei da oferta e da procura – adoro essa teoria; ela explica muita coisa. Muitos/muitas empresários/empresárias notando um público específico, começaram a produzir determinados alimentos para atrair um público restrito. Como a oferta é pequena, o preço tende a ser alto. Um bom exemplo disso é esse boom por alimentos orgânicos que, muitas vezes, contém mais veneno que os convencionais, pois não há um/uma agrônomo/agrônoma para determinar a quantidade suportada de agrotóxico — mas, isso é outro assunto.org

Alimentos industrializados e/ou orgânicos têm preço bem alto e esse preço alto, na hora que uma pessoa ativista diz que “é muito barato ser vegan”, ela acaba ignorando a realidade de uma enorme parcela da população que não têm condições financeiras para pagar, por exemplo, 20 reais numa única refeição. Isso sem contar a pasta de dente, desodorantes e outros materiais de higiene que a unidade ultrapassa 10 reais.

Essa forma de preconceito de classe faz com que as pessoas não só desacreditem no veganismo, como passem a repudiar. Portanto, antes de falar uma besteira dessas, tenha o mínimo de empatia com quem não está numa condição privilegiada de ter dinheiro e tempo para fazer comida.

Mais digno é, por exemplo, você, que tem tempo para testar receitas e pesquisar alimentos com menores preços, ensinar uma pessoa que não tem tempo a cozinhar com alimentos menos caros. Já que você tem tempo, pode pesquisar locais em sua cidade onde vende tais alimentos em conta. Isso é até bom para você perceber, enxergar e conhecer sua própria cidade.

4) O veganismo vai salvar os animais?

O que é uma gota de água num oceano? Pouco, né? E num rio? Pouco também? E numa piscina? Melhorou, mas ainda é pouco. Pois é, o veganismo não vai salvar os animais da morte. Animais continuarão a morrer para saciar a vontade das outras pessoas. Isso é ruim? Claro que é. Só que pior do que isso é restringir a liberdade das pessoas de comerem.

Se vivemos numa democracia, se defendemos uma democracia, se defendemos a liberdade, devemos respeitar quem quer comer carne, caso contrário estaríamos agindo como ditadores ou doutrinadores religiosos. A consciência é algo pessoal, cada pessoa desenvolve uma através de ajuda e não de obrigação ou medo/remorso — e é aí que o ativismo tradicional peca; só que não vou entrar em detalhe,  escrevi sobre isso aqui. Entretanto, devo deixar claro que, mesmo não concordando com esse tipo de ativismo, achando que isso é um comportamento ditatorial, respeito a liberdade das pessoas agirem assim.

Vegan-for-Everything-VSUma pequena atitude, por mais que seja uma vez por semana, é o pingo no oceano. Em outras palavras, uma pessoa que não é vegetariana, se ela passar um ou dois dias na semana fazendo uma refeição vegana estará contribuindo um pouco para a causa e esse pouco é, além do não-consumo, a conscientização. É uma pessoa preconceituosa, desconfiada, cética etc. a menos.

5) O veganismo é só para os animais?

Deixei esse por último porque pensar em libertação animal necessariamente também é se pensar na libertação humana.

A produção de carne em larga escala é altamente exploratória. Trabalhadores/trabalhadoras enfrentam uma rotina pesada de corte de carne; vários e várias sofrem sequelas permanentes com os movimentos excessivos e repetitivos; a baixa remuneração. Isso, sem contar que, os que estão envolvidos diretamente no abate perdem a empatia pela vida. E sim, coloquei o gênero no masculino, porque as empresas não contratam mulheres para corte, pois elas são “sensíveis demais”. Ora, a sensibilidade é condenada. SENSIBILIDADE CONDENADA.

Agora vamos na produção de alimentos – que também envolve questões ambientais que também está ligada a libertação humana. Terras bem produtivas sendo usadas para plantio de grãos para alimentar o gado, porcos e aves; florestas devastadas para fazer pasto; uso excessivo de água; tudo isso sendo alimentado através de uma mão de obra sem respeitar a legislação trabalhista e em alguns (muitos?) casos em condições de escravidão.

Pensar no veganismo como simplesmente parar de consumir alimentos de origem animal é muito simplório. Há toda uma cadeia de produção que envolve toda uma questão social, política, econômica.

Pensar no veganismo com uma forma humanitária é algo grandioso. Porém, como disse nos pontos 3 e 4, não devemos nunca acharmos que, enquanto veganos, estamos acima das outras pessoas não veganas e que o nosso mundo é uma “verdade absoluta”.

Pensar dessa forma é reforçar (mais ainda!) a não-libertação humana; é caminhar ao mesmo lado que aqueles que achamos que estamos combatendo; ou, usando as palavras de Paulo Freire (com as devidas adaptações e contextualizações, claro), é ter consciência de estar no papel do oprimido, mas agir como opressor.