Nestor,
Tudo me dói. Os músculos da face de tanto rir, os do glúteo de tanto correr, o coração que perde a casca da ferida que eu arranco todos os dias para nos revisitar… Tudo me dói! Eu fico aqui estudando de frente pro computador na busca inconsciente de achar, nas fórmulas quânticas ou nas teorias da conspiração, algum conto romântico e/ou poesia que me faça lembrar você – não o você que me sorri amarelo-ovo agora, mas o você que era você quando a gente nem conseguia sorrir de tanto beijo. Você era caprichoso até na tentativa de se apaixonar, quando largou sua mulher pra ficar comigo.
Por aqui eu tenho trabalhado muito, trabalhado até de férias daquela repartição. Tenho trabalhado muito, sem a mínima necessidade, trabalhado igual um monstro pra tentar não ver mais seus gestos em cada pessoa que me cruza o caminho. Até o mendigo que atravessa a rua me lembra seus passos de alguma forma – talvez pela cegueira de não saber aonde ir.
Às 18:30, pontualmente, sinto que nunca vou esquecer o estrago que você me fez, enquanto todos a nossa volta só instruíam você a tomar cuidado comigo. Às 18:31 sinto a ironia incutida em tudo isso.
Inventei uma nova obsessão, dessa vez por esportes. Qualquer dor nas coxas vai sempre doer menos que o tudo que me dói quando lembro de nós.
Ai, que saudade Nestor.
Ai que saudade!
Tudo me dói.
Márcia.