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A DEMOCRADURA CAPITALISTA DESFILA A SUA NOVA MODA INTERNACIONAL EM PARIS: AS LEIS CONTRA O TERROR DOS MOVIMENTOS SOCIAIS.

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Por Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira, Doutor em Ciências Sociais

 

1 – “SOLUÇÕES DA COP 21”: SILENCIAR OS DIVERGENTES.

Neste Sábado, dia 04 de Dezembro, os militantes do Movimento Anti COP 21 foram até a exposição intitulada “Soluções COP 21”, no Grand Palais de Paris, para realizarem o seu ato anteriormente anunciado, intitulado “Turismo Tóxico”.

Antigreenwashing IIA exposição em pauta trata-se de um evento que acontecerá entre os dias 04 e 10 de Dezembro, organizado pelas grandes multinacionais que estão patrocinando a COP 21, tais como a EDF (empresa de produção de energia elétrica cujo maior acionista é o Estado francês), a Coca Cola (que dispensa apresentações), a Renault (ela mesma: a famosa indústria automobilística), a Avril, a Engi e outras mais. O objetivo é apresentar para o grande público supostas soluções desenvolvidas por estas empresas para o problema ambiental, e a soma investida pelas corporações para a organização do evento está estimada em torno de quatro milhões de euros! O público estimado para todo o período da exposição é de cinquenta mil pessoas!

As soluções? Organismos geneticamente modificados, tratado de livre comércio, carvão “apropriado”, reciclagem de garrafas pets…

Diante das farsas em que se configuram as tais “soluções” apresentadas – pois todas estas empresas são, pelo contrário, grandes agentes poluidores, os militantes ecologistas do movimento Anti COP 21 resolveram ir à abertura da exposição, levando junto representantes de várias comunidades que são atingidas ao redor do mundo pelos crimes ambientais destas corporações, com o objetivo de oferecer aos interessados informações sobre a realidade das ações ambientalmente criminosas destas empresas: o chamado “turismo tóxico”.

A abertura da exposição estava prevista para o meio dia e foi a partir deste horário que os militantes sociais começaram a chegar.

Republica RestringidaJá na fila da entrada – com centenas de pessoas -, a polícia, ciente dos planos dos ativistas (que foram divulgados em uma chamada ao público pela internet), estava “retendo” todas as pessoas que se enquadravam num determinado perfil “alternativo”, com características como ser homem, jovem (com idade até os trinta anos), usando penteado tipo dreadlocks e/ou bonés “descolados”. Se tivesse na bolsa algum material escrito sobre política, aí é que era enquadrado mesmo. Aliás, já no metrô havia policiais farejando gente com esse perfil de “periculosidade”.

Então, dezenas de ativistas foram barrados já na entrada.

Porém, o número de ativistas era de milhares – o movimento anti COP 21 vem sendo organizado há dois anos, com a participação de militantes de vários países do mundo – e vários que não se enquadravam neste perfil conseguiram entrar sem serem detectados.

Lá dentro, por volta das treze horas, quando acharam que já havia ativistas suficientes no interior da exposição, resolveram iniciar o turismo tóxico.

Então, anunciaram publicamente o início da atividade e, de imediato, policiais que estavam à paisana arrastaram os manifestantes para um corredor, na lateral dos estandes.

Havia “guias” de turismo tóxico falantes de língua francesa e inglesa.

Um dos manifestantes logo respondeu: “vocês nos colocaram aqui para que não vejamos os estandes, mas, veja, aquele ali na frente é o estande da Engi, uma empresa que diz que encerrou todas as suas atividades relacionadas à queima de carvão, mas ela mantém trinta centrais que fazem uso deste combustível”.

E prosseguiu: “A coca Cola: esta empresa consome mais de 300 litros de água por dia – cada filial, para fabricar seus produtos”.

Antigreenwashing I“Está vendo aqueles estandes lá, são dos bancos: o BNP Paribas é uma sociedade que oferece crédito agrícola e investe em negócios que fazem uso de carvão combustível. O BNP é o quarto maior investidos em carvão do mundo”.

“A Associação Europeia de Construtores de Automóveis: o presidente de Renault é o chefe desta Associação, e o posicionamento dela sobre o aquecimento global é de que se este problema existe, ele é culpa de todas as sociedades e, portanto, todos devem pagar a conta, tanto ricos como pobres. Esta empresa é contra a justiça ambiental. Se a Renault (através do seu presidente) se posiciona desse modo a respeito do problema, é porque ela deseja impedir que sejam aprovadas legislações que regulem as emissões de poluentes dos seus produtos”.

“Agora, na COP 21, se fazem discussões intermináveis sobre os pedidos de dinheiro feitos pelos países do Sul (pobres) para que possam investir na reparação de problemas gerados pelas alterações climáticas e que atingem suas populações. Sabe quanto seria necessário para isto? Cem milhões de dólares. Sabe quanto entra nos paraísos fiscais, todos os anos? Mil bilhões de dólares. Então, dinheiro há, o que não há é a disposição para realizar a justiça climática. Por isto, nós, organizações ecologistas, a partir de agora, vamos iniciar uma campanha contra o BNP Paribas, que é o campeão de investimento em carvão e de evasão fiscal, até que este banco saia dos paraísos fiscais.”

Então, quando o Ministro da Agricultura da França – Stéphane Lefoll – entrou na exposição, alguns militantes se aproximaram dele e começaram a cantar “se você gosta da greenwashing bate palmas” (“greenwashing” é a lavagem verde contra os lucro sujos, proposta pelos ativistas) e, diante da impassividade do ministro, os policiais continuaram a ação de expulsões dos manifestantes.

Antigreenwashing IIIUma mulher australiana foi expulsa ao falar dos crimes ambientais cometidos contra sua comunidade por uma das corporações que está expondo.

Os policiais não expulsaram apenas ativistas, mas também jornalistas de mídias independentes, os quais, inclusive, disseram ter tido a clara percepção de que, desde que entraram, a polícia já estava lhes visando, como se já tivessem decorado suas feições anteriormente, cm o fito de abordá-los.

Inclusive, dois profissionais da imprensa estrangeira foram expulsos também.

Um repórter fotográfico teve sua câmera atingida por um golpe de um policial e o impacto foi tamanho que a câmera atingiu e feriu o rosto do jornalista, que precisou ir ao Hospital Saint Louis, para fazer uma sutura.

Duas mulheres com idade em torno dos cinquenta anos foram expulsas violentamente, uma delas, teve uma crise de asma e pediu aos policiais para lhe darem sua “bombinha” de medicamento, o que lhe foi negado.

Testemunhas disseram ter visto policiais chutarem alguns ativistas, como também que a polícia que agiu dentro da exposição – à paisana – foi a polícia criminal, o que não é de praxe neste tipo de situação.

Lá fora, um manifestante subiu em um poste e abriu uma faixa com um desenho simbolizando o planeta Terra como um útero contendo um embrião humano e então, alguns policiais escalaram o poste e o derrubaram de lá.

O local ficou cheio de viaturas policiais e os grupos de manifestantes foram isolados pela polícia do restante do público

Antigreenwashing IVO grande contingente de manifestantes começou a gritar “liberdade”, liberdade”!

Uma jornalista dos U.S.A. chorou diante destas cenas.

Quando o Ministro da Agricultura saiu, um ativista lhe interpelou, perguntando o que ele achava deste ato de autoritarismo da expulsão dos militantes, e Stéphane Lefoll respondeu simplesmente: “é normal, eles foram violentos em suas falas.”

Um homem ligado a uma das empresas que está expondo relatou ter ficado perplexo com toda a situação pois, segundo ele, tinha se aproximado dos guias do turismo tóxico para dialogar com eles, quando a polícia começou a expulsá-los e, lá fora, quando viu a ação de derrubada do militante que havia subido no poste, resolveu acenar com um lenço só para ver a reação da polícia e então, também foi “acossado” pela polícia.

Por volta das dezesseis horas, os manifestantes se dispersaram, mas prometem continuar a retornar à exposição durante todo o seu período de duração, porém, adotando outras formas criativas de protesto…

Eis o link para a matéria sobre este evento, publicada pelo site ecologista “reporterre”:

2 – SE POLÍCIA É POLÍCIA EM QUALQUER CANTO, IMAGINEM AGORA COM A LEI CONTRA O TERROR DOS MOVIMENTOS SOCIAIS:

O Movimento Libertário Anti COP de Paris publicou em seu site (anticop21.org) um vídeo coletânea de imagens da repressão policial à marcha do Domingo dia 29, na Praça da República.

Resolveram fazer isto para demonstrar ao grande público toda a arbitrariedade da polícia, movidos pela indignação com relação à cobertura das grandes empresas de comunicação sobre este acontecimento (principalmente as TV’s), pois o discurso que tem sido veiculado por estas é o de que os manifestantes eram “mascarados mal encarados” e portanto isto justificaria a ação da polícia.

Antigreenwashing VAs prisões arbitrárias de ativistas começaram já há alguns dias antes da própria abertura da COP 21, tendo sido os militantes anarquistas os seus principais alvos.

Duas pessoas provenientes da própria comunidade europeia (pois o movimento anti COP conta com milhares de ativistas de vários países do mundo) foram retidas já no próprio aeroporto, ao serem identificadas e então, foram deportadas para seus países de origem (Bélgica e Reino Unido).

Durante a repressão do dia 29, a polícia deixou os manifestantes chegarem à Praça da República para a concentração, porém, cercou-os e durante horas a fio fustigou-os com bombas de gás lacrimogênio, de efeito moral, balas de borracha e espancamentos, tendo prendido mais de trezentas pessoas, sendo que quatro delas foram enviados diretamente para o presídio.

As acusações formalizadas são, em geral, de participação em grupos delinquentes, agressão contra policiais e participar de manifestações proibidas, e vários dos presos já foram julgados e condenados a penas que variam de três a oito meses de prisão (sem fiança) e/ou multas em torno de mil euros.

Vários presos não franceses estão sendo deportados para os seus países de origem.

Os militantes denunciam ainda que a polícia tem feito batidas nos metrôs e nas ruas e que durante estas ações tem abordado as pessoas “pela cara”, procurando identificar gente que tenha aparência de militantes “zadistas” (termo derivado de da sigla ZAD, que significa Zona a Defender, alusão à comunidade libertária de Notre Dame de Lande, que se instalou em uma enorme reserva ambiental situada na cidade de Nantes, na França, com o objetivo de impedir que o governo francês destrua a área para realizar o projeto de construção do maior aeroporto da Europa).

Alguns pontos que merecem destaque no vídeo em pauta são os seguintes:

– Aos 1:30’ um policial, de forma traiçoeira, atinge o joelho de um manifestante idoso com o cassetete. O homem não consegue mais se manter de pé sozinho, durante todo o restante do dia;

– Aos 2:15’ a polícia retira os manifestantes do monumento da república e faz um cordão de isolamento em volta deste, para que eles não retornem: este é um momento altamente simbólico – ato falho freudiano coletivo? – do que está se passando ali: a “Res Pública”, a “coisa de todos”, não é mais de todos, mas, apenas dos agentes do Estado…;

Antigreenwashing VI– Aos 5:10’ policiais borrifam jatos de spray de pimenta “à queima roupa” sobre os olhos de alguns jovens;

– Aos 6:45’ um homem idoso – por quem alguns jovens gritam chamando de professor – após ser arrastado por policiais para um canto onde estes estavam amontoando os detidos para depois serem encaminhados para o comissariado, começa a interpelar os policiais dizendo-lhes que o dever deles deveria ser o de proteger os cidadãos e não impedir-lhes o direito de expressão e lhes pede para devolverem seus óculos, o que é lhe negado;

– Aos 7’ uma mulher clown (palhaço) faz brincadeiras com um policial alinhado na barreira de contenção: uma informação importante a saber aqui é que a Europa está encaminhando uma lei para criminalizar os clowns já comuns nos protestos, sob o argumento de que eles dão apoio aos black blocs (estes já são caçados pela Europol – a polícia anti crime organizado da União Europeia – como sendo uma “guerrilha urbana”);

– Aos 7:15’ policiais cometem um espancamento coletivo contra um manifestante;

– Aos 7:35’ policiais chutam as pernas de um homem já dominado, enquanto o colocam em uma viatura;

– Aos 9:15’, enquanto um grupo de policiais arrastava um homem, um deles manda ir à merda uma jornalista que queria registrar o fato;

– Aos 10:45’, para fechar com chave de ouro, outro espancamento coletivo…

Todas estas cenas parecem bem familiares para os brasileiros, não?

Isto nos remete a uma discussão que tem ganhado força no Brasil, ultimamente: a da necessidade – ou não – da desmilitarização da polícia.

Ora, esta policia francesa não é militarizada, nos moldes da brasileira: subordinada e formada pela instituição do exército.

Antigreenwashing VIIToda esta coincidência de métodos de ação, bem como de “alvos” privilegiados (os “diferentes”) só demonstra algo que os anarquistas já sabem há muito tempo: polícia é polícia em qualquer canto, e sob qualquer forma: um braço armado do Estado para assujeitar quem quer que não se enquadre nele. E, como diz o dito popular, “ai do poder que não pode”…

E agora que, mais do que nunca, diante do momento de crise aguda do sistema (em vários aspectos, inclusive, ambiental), as elites econômicas têm sentido a necessidade de escancarar desavergonhadamente a sua incontornável ingerência sobre os estados nacionais, ao ponto de desfilarem em Paris seu novo modelito estratégico para a crise – as “leis antiterrorismo” que na verdade visam mesmo é aterrorizar os críticos do sistema -, agora, mais do que nunca, essa nova tendência que o mundo vai seguir (como toda moda lançada em Paris) vai deixar claro que não é à toa que até nas vestimentas as polícias anti motim do mundo se parecem (os famosos “robôs cops”): polícia, qualquer que seja ela, é polícia das elites, e estas são internacionalizadas, transnacionais, como as fardas, os métodos, e as eleições de alvos pelas forças da “ordem”…!

Logo no dia seguinte, Sábado 05 de Dezembro, às quatorze horas, os anti COP engrossarão uma manifestação de desempregados no bairro de Stalingrado…

Eis o link para o vídeo analisado acima:

                                                                                            * * *

P.S.: As duas gravações realizadas no momento do turismo tóxico foram coletadas a partir de uma transmissão da Rádio Libertaire de Paris (89.4 FM).

Todas as fotos foram retiradas do site ecologista Reporterra, exceto o foto da batalha campal na praça, que foi retirada do site do G1.