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#PrimeiroAssedio reverso

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A campanha sobre o #PrimeiroAssedio tem gerado diversas discussões e debates, indignações e deboches. Tive o (des?)prazer de ler vários relatos, desde “cantadas de pedreiro” na rua até estupros. Bem, eu não sou mulher e, obviamente, nunca sofri assédio. No entanto, já assediei e quero relatar isso. É! Isso mesmo que vocês leram: quando foi que eu assediei uma mulher pela primeira vez.

Eu tinha… tinha…, não lembro a idade. Eu estava na… na…, não lembro também. Foi com a… a…, quem era mesmo? Eu fiz, ou melhor, falei ou será que assobiei, também não lembro.

Pois é, aposto que você, leitor homem e hétero, também não se lembra de quando foi que isso aconteceu, né?

Ah, não esqueci de tudo. Lembrei da época de criança e meu primeiro professor de Judô dizia nos treinos: quem bate, esquece; quem apanha, nunca esquece. É, essa frase faz muito sentido. Quantas mulheres não machuquei por conta de apenas uma “fiu-fiu, gostosa”? Ou as buzinadas na rua? Ou até mesmo aquelas que assediei inconscientemente? 

Eu tenho duas irmãs e sempre tive mais amigas que amigos, por causa disso, acabei ouvindo muita história delas e, isso, acabou me aproximando do movimento feminista. No entanto, determinados comportamentos, por eu ser homem, eram naturalizados e não percebidos por mim. Algumas amigas passaram a alertar e, ao longo da minha adolescência e juventude, passei a refletir e a me policiar para evitá-los. Parei com piadinhas na rua, me recusei a assistir “porn revenge”, de xingar mulher usando vadia ou puta etc.

Com o tempo, passei a achar que jamais erraria e que estava sendo totalmente coerente, principalmente, em tomar a frente sempre para falar sobre feminismo. Entretanto, uma amiga querida, que é sempre tachada de “feminista radical”, toda vez que nos encontrávamos, me recriminava e me chamava de machista. Ignorava ela, pois (quase sempre) estava bêbada e eu acabava por reproduzir o que todos diziam: “Lá vem a Fulana feminazi me chamar de machista.”.

166003_10151609500399732_1888593695_nComo disse antes, parei de julgar as mulheres que faziam o que bem entendiam com seu corpo. Ao conhecer uma e ficar, já deixava claro para ela que só tinha/queria atração física e nada mais. Na minha cabeça, por eu ser sincero, isso me isentava de usar e olhar a mulher apenas como um “pedaço de carne”. Isso não aconteceu com uma, duas, foram com várias.

O assédio não se dá somente no campo físico, mas também no psicológico. Algumas dessas mulheres com quem me relacionei devem ter entendido e, consequentemente, me olharam também apenas como um “pedaço de carne” – e convenhamos que a visão de “pedaço de carne” do homem para a mulher é totalmente diferente da mulher para o homem; outras podem ter se achado enganadas (sem lembram da frase do meu professor de Judô?). E quem foi que me alertou a isso? A amiga radical, feminazi e chata que, como coloquei propositalmente no pronome masculino, TODOS diziam.

Enquanto achava que estava sendo sincero, estava reproduzindo julgamentos;

Enquanto achava que estava lutando a favor, estava sobrepondo o papel das mulheres numa causa que é delas;

Enquanto achava que estava ajudando, estava assediando de outra forma.

Qual o meu objetivo com este texto? Simples, fazer com que você, leitor homem, perceba que às vezes, por mais que tenhamos uma consciência positiva, temos atitudes que não condizem com o que dizemos/fazemos/agimos. Quando uma mulher te alertar sobre suas atitudes, não ache que ela está sendo “radical”. Ela pode até ser agressiva, mas isso é completamente natural e justificável.  O que não é natural e justificável é acharmos que pequenas atitudes para nós, que NÃO estamos inseridos numa minoria, não possam gerar grandes desastres para outras pessoas. E isso não vale só pro machismo; vale também para LGTBfobia, racismo, preconceito de classe etc.

O que nos torna humanos é exatamente o fato de não sermos Deus, ou seja, um ser perfeito. A perfeição nega a nossa humanidade; nega que podemos (e devemos!) errar, sangrar, sofrer.