Desde criança nós ouvimos em sala de aula aquela velha história de que “Não importa vencer, mas sim competir”, não é? Ou aquela outra de “Coma tudo! Tem gente passando fome porque não tem comida”? Pois bem, esses mitos, ou melhor, mentira (mesmo!) fazem parte do nosso cotidiano escolar.
Ora, vivemos numa sociedade competitiva e que, por isso, somos educados para sempre vencer. Competir numa batalha difícil, ou seja, aquela em que há uma probabilidade enorme de resultar em derrota, é perda de tempo. Então, é melhor nem tentar. A não tentativa é até algo bom se formos analisar que há o incentivo para vencer a qualquer custo nem que para isso precise perder a ética. Imaginem uma prova que tenha uma questão que exige uma resposta discursiva. Agora, imaginem aqueles/aquelas alunos/alunas que não sabem a resposta e deixam em branco ao invés de tentarem escrever aquilo que eles/elas entenderam. Por outro lado, outros/outras, na ânsia de tirar uma nota boa, acabam optando por colar.
Em relação ao exemplo do alimento, é complicado falar pra uma criança e/ou adolescente que há pessoas sem comer não por falta de alimentos, mas sim por não existir uma distribuição justa, bem como uma produção de alimentos mais variada e para humanos (e não para alimentar gado). Entretanto, isso não é um assunto simples que dê para ser explicado em poucas aulas. O/a professor/professora terá de estudar sobre a produção de alimentos e a fome e, convenhamos, ler, entender, pesquisar e, principalmente, saber contextualizar Josué de Castro não é algo fácil. E é exatamente nesse sentido que qualquer falha pode causar um desserviço ao ensino. A falta de domínio do assunto pode fazer com que os/as alunos/alunas interpretem que podem sim desperdiçar alimentos, afinal o problema não é o desperdício. Outro bom exemplo disso é a questão da água. Se não souber explicar que a qualidade e a quantidade da água está ligada diretamente as más gestões e as políticas que favorecem o agronegócio (olhem a ligação de temas!), haverá um incentivo para uso irresponsável da água.
O ruim dessas mentiras é que não sabemos se elas acontecem nas escolas e perpetuam na graduação ou se isso é uma falha pessoal de cada um/uma (e nisso, eu me incluo) na graduação. Ou ainda pior, se somos ensinados a mentir. Sim, isso mesmo: ensinados a mentir. Ora, não faltam relatos por parte de alunos/alunas de que docentes, nas graduações, falam abertamente em sala de aula: “ah, isso vocês, da licenciatura, não precisam saber” ou “Querem moleza? Vão para a licenciatura!”. O problema é que na formação, determinados conteúdos (como estes que citei) não são aprofundados e nem incentivados para a pesquisa, porque os/as professores/professoras não enxergam que os/as licenciandos/licenciandas precisam (sim!) ser pesquisadores (também!), já que isso é “papel” do/da bacharel, assim como outros absurdos.
Voltando ao exemplo da prova, me lembrei dos tão temidos concursos da CESPE/UNB. Qualquer concurseiro/concurseira de plantão se treme inteiro com essa de que “uma errada anula uma certa”. Para a CESPE é preferível que uma pessoa não marque nenhuma questão, do que arriscar e marcar uma errada. Do ponto de vista competitivo para vencer, faz todo sentido, afinal só passam as pessoas que têm certeza absoluta, 100% de precisão (licença poética para usar pleonasmo) na alterna… ops, desculpem, no emocional. Por outro lado, do ponto de vista didático, a avaliação não busca a pessoa mais apta, mas sim excluir aquelas incapazes. Incapazes de que? De ter uma autoconfiança em si próprias a ponto de ter certeza absoluta, 100% de precisão para ter coragem de marcar a alternativa que ela sabe que é certa, mas, pelo medo, de errar prefere não marcar?
Pois é, depois não sabem porque crianças e adolescentes detestam a escola; porque professores/professoras ficam desmotivados para darem aula; diretores/diretoras que (com o perdão da expressão) “metem no rabo” dos/das professores/professoras cobrando melhores aulas etc. E ainda somos obrigados a escutar de analfabeto político e idiota útil pedindo para que não haja educação libertadora do Paulo Freire nas escolas. Como se houvesse, né?