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O ensino, professores e o autoritarismo

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1 – O ensino e a autoridade.

Não há nada mais autoritário que o ensino. Em última instância poderíamos afirmar que toda educação é fascista. O fascismo caracteriza-se pelo rígido controle do Estado-nação, promovendo uma forte vigilância em todos os campos da vida social. Na realidade é difícil ensinar se não por métodos autoritários. A educação é uma tentativa de imposição de sentidos, de lógicas e uma série de outras coisas mais. Ao dizer que um objeto deve-se chamar martelo, por exemplo, isto é um consenso estabelecido que não pode ser questionado. Dando-se a liberdade para que as pessoas façam o que bem entendam ao nomear ou definir teríamos um caos social devido a falta de sentido. Assim sendo a educação é obrigatoriamente autoritária. Ela impõe e vigia um determinado tipo de procedimento promovido pelo Estado-nação. A vigilância é constante e os professores são os seus melhores representantes. Eles vigiam a manutenção da norma escrita, cultural e prática dos jovens humanos. Ela (a educação) impõe uma visão de mundo que, não sendo assim, impede o estabelecimento de uma comunicação mínima. Neste sentido não há como escapar. A educação é autoritária.

2 – O ensino e a liberdade.

Isto não implica dizer que professores devam sempre apresentar-se com posicionamentos autoritários ao ensinar. A educação pode também ser o espaço da liberdade, para tanto, os discentes precisam tomar conhecimento do real teor e intenção do processo educacional e  participar mais ativamente de todo o processo. Tal como Marx afirmou no 18 Brumário de Luís Bonaparte:

Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado

A tomada de consciência que os indivíduos fazem a sua própria história, nisto consiste um processo pedagógico ligado à liberdade. Apesar de admitir que existem condições históricas herdadas (padrões culturais, linguísticos etc.), podemos sobre elas atuar, modificando-as.
É normal, por exemplo, observarmos professores decidirem o rumo dos discentes sem antes consultá-los. Professores seriam péssimos médicos. Um médico sempre escuta seu paciente antes, apenas após ouvi-lo minimamente traça o diagnóstico. Professores não costumam fazer isto. Aliás, quando uma turma apresenta problemas em relação ao rendimento a primeira medida tomada entre professores é uma reunião (entre eles) para decidir o que fazer. A parte em que os alunos entram? Naquela em que são criticados por não estudar. Apenas. Geralmente não se debate educação com os discentes. O que é uma falha grave.

frase-o-autoritarismo-e-uma-das-caracteristicas-centrais-da-educacao-no-brasil-do-primeiro-grau-a-paulo-freire-133258Podemos observar também o autoritarismo dos professores principalmente em épocas de greves. Os alunos são, sempre, os principais afetados com a greve. No jogo político, são sempre o lado mais frágil. E como sempre, o lado mais frágil nunca é escutado. O debate é sempre entre o governo e os professores. Os alunos (ou os pais dos alunos)? Pura massa de manobra. Não possuem poder de voto ou decisão. São os primeiros a serem expulsos do debate, mandados para casa, pelos professores. São enviados para casa para aguardar decisões. Peões. São a maioria, mas uma maioria que nunca é ouvida. Enquanto isso, os professores bradam em suas salas falando sobre democracia, participação popular e poder. Não se dão conta que reproduzem o mesmo sistema de dominação ao qual criticam.

Os alunos precisam voltar-se contra isto. Professores não possuem o direito de decidir os rumos que greves ou mesmo os rumos que o ensino deve tomar sem antes debater isso com aqueles que serão os mais afetados com as medidas tomadas: os alunos. os professores sempre julgam-se no direito de decidir o que deve-se e como deve-se ensinar aos alunos sem antes escutá-los.

E isto é válido principalmente para o aluno do ensino superior. O discente é “adulto” para ter habilitação. É “adulto” para votar. É “adulto” para responder pelos seus crimes. Mas não é adulto para decidir sobre os rumos da educação. É um contra-senso democrático.