Eu adoro começar meus textos sempre com uma pergunta. Dessa vez a pergunta é o que é amor? É uma pergunta fácil de responder. Todo mundo sabe dizer o que é o amor. Entretanto, já pararam para pensar que cada pessoa tem no amor um significado diferente, próprio para cada pessoa? Diante deste dilema, fica até complicado achar uma definição universal. Entretanto, vou me focar numa: amar é se doar para outra pessoa.
Li isso uma vez e, desde então, fiquei pensando como esse significado é complicado. Para explicar, vou me pautar em quatro exemplos: o amor entre pais e mães para filhos/filhas; o amor de uma pessoa por um animal; o amor por alguma divindade; e o amor de uma pessoa para outra (ou outras, sejamos democráticos).
O primeiro caso, no geral, seguindo até um lado instintivo (de maternidade, cuidado) e cultural (que a mulher é mais apropriada para cuidar de criança), é normal que as mães tenham uma afeição maior com os/as filhos/filhas quando são crianças e adolescentes, do que os pais. No entanto, essa afeição, muitas vezes se torna (quase?) uma devoção. Pais e mães sendo totalmente submissos às suas proles. Fazem todas as suas vontades e acabam por transformar crianças mimadas em adultos inseguros, paranoicos, fundamentalistas e, em alguns casos, até assassinos.
E com o animal? Vamos lá! Uma pessoa tem um animal de estimação, supondo que ela faça tudo por ele, coloca-o pra dormir na cama, fica alisando toda hora, se fez algo de errado, vai lá e entope de beijo, enfim trata-o como se fosse um/uma…. filho/filha. Olha aí, mais uma vez a doação se tornando devoção. Já observaram que as pessoas que devotam demais seus bichos de estimação, acabam criando um animal bastante desrespeitoso e, por vezes, violento? Isso eu estou falando de cachorro, porque se falar em gato, xiiii. Aliás, falando sobre animais de estimação, nunca entendi o porquê das pessoas elogiarem outras falando gato/gata e xingarem com cachorro/cachorra. Gatos são seres independentes e com um humor terrível; demonstram afetividade por poucos momentos no dia; não gostam de peguem em determinados lugares; não respeitam o espaço de outros gatos e dos/das próprios/próprias donos/donas etc. Por outro lado, o cachorros são animais extremamente fiéis aos donos; estão sempre demonstrando alegria quando estão perto da gente; são bem carinhosos e, a maioria das raças (senão todas), bem humorados.
Ainda nesse ponto sobre essa devoção pelo animal de estimação, tem outras coisa que me intriga: a “seleção de devoção entre os animais”. Existem aqueles animais que as pessoas dão a vida por eles e aqueles que as pessoas tiram a vida para comer, vestir etc. Meio estranho essa diferenciação…
Agora o terceiro caso, o religioso. Eita ferro, este é complicado. Falou em religião, pode ter certeza que haverá uma discussão e das brabas. Enfim, a pessoa ter fé em uma divindade é normal e, se isso traz conforto para ela, qual o problema em acreditar? Na teoria nenhum, mas, na prática não é bem isso. As pessoas se doam para os deuses ao ponto de cometerem atrocidades com elas próprias e com outras pessoas. Torturas, coações, roubos, estupros, mortes etc. tudo isso provocado em nome de um deus que, aposto que se existisse, teria vergonha disso tudo. Por outro lado, aquelas pessoas que não acreditam em divindades, quando se doam a isso também em forma de devoção, se tornam tão ou mais intolerantes que aquelas cujo “combatem”.
Por fim, tem o amor entre pessoas. Claro que foi proposital deixar este exemplo por último, pois ele é o mais importante de todo o texto. Bem, antes de mais nada, costumo dizer que não podemos amar uma pessoa se não nos amarmos primeiro. Isso parece óbvio, mas, não é. Quantas vezes vocês já ouviram “o amor é uma merda!” ou “bonzinho só se fode”? Pois é, várias vezes. O problema é que, as pessoas que falam isso enxergam no amor como uma espécie de recompensa. “Ahh, eu faço tudo por essa pessoa, mas ela é ingrata por não me retribuir”. Se você trata bem uma pessoa e ela não te trata bem, a culpa NÃO é da outra pessoa, mas sim, somente, unicamente, exclusivamente, totalmente (bem enfatizado para não gerar dúvidas) sua. Isso parece óbvio, mas, não é. [2]
Se lembram do exemplo do amor de pais e mães, né? Pois bem, se lembram que a criança mimada se tornou uma pessoa adulta insegura e paranoica. Então, uma pessoa insegura na relação é, por isso, carente, que necessita de atenção toda hora, altamente ciumenta (diria possessiva) e totalmente submissa. Sufoca o/a parceiro/parceira ao ponto deste/desta ficar doido/doida com tanta pressão. Ninguém em sã consciência, com a autoestima boa e se amando terá paciência para aguentar extrema bajulação. A não ser, claro, que também seja insegura e paranoica, porque se for, ela não procurar no/na parceiro/parceira alguém para acompanhá-la, mas sim alguém para fazer o papel que seu/sua pai/mãe faziam. Em outras palavras, ser a babá dela.
Notaram que todos os exemplos que citei têm sempre a devoção como um resultado catastrófico do ato de ser doar? Isso acontece porque as pessoas não entendem que o amor não serve para prender, mas sim para libertar. O amor tem que ser mútuo, sincero e no mesmo nível para não prender, sufocar e, consequentemente, criar problemas. E, para terminar o texto, vou repetir o que disse anteriormente: você só saberá realmente o que é o amor quando você estiver amando a si próprio/própria. Até isso acontecer, não fale para outra pessoa que você a ama. Essa palavra é muita bonita, mas também muito forte para ser usada para algo que você sequer compreende.