Chego em casa esta noite, ainda gozando férias do meu curso na Universidade, com tempo suficiente para alimentar minha mente de boas coisas, e descubro que São Paulo está, digamos, homenageando grandes expoentes do jornalismo esportivo batizando os túneis da Rodovia dos Imigrantes com seus nomes.
Inaugurada em 1976 com 58 km de extensão, a Rodovia dos Imigrantes tem onze túneis, 44 viadutos e sete pontes. É a principal via de acesso à Baixada Santista e ao litoral, possuindo tráfego intenso de veículos, sobretudo durante o verão e em feriados. É a cara da maior metrópole do nosso país.
Grande parte dos túneis são batizados com nomes de engenheiros, médicos, juristas e outros notáveis. Recentemente, nomes do esporte também ganharam destaque por lá. Em 2013, o comentarista Joelmir Beting, que atuou na cobertura de jogos de futebol no começo de sua carreira, recebeu a homenagem em um túnel de 1.100 metros. Em 2014 a lista aumentou com o radialista Wilson Fittipaldi, especialista em automobilismo e pai do piloto Emerson, bicampeão de Fórmula 1. São 300 metros. Já em março, chegou a vez do locutor Luciano do Valle, lendária voz da TV Bandeirantes falecido ano passado, dar nome a um túnel de 100 metros.
Esse fato me faz lembrar uma história que aconteceu com o nosso Marinho Chagas, quando disputava a Copa do Mundo da Alemanha, em 1974. Diziam que Marinho era um lateral muito além do seu tempo. Era como um atacante jogando na lateral-esquerda. Esse ímpeto por atacar demais do galego natalense bom de bola acabava abrindo muitos espaços na defesa brasileira, levando nossos defensores à loucura, propiciando lances de perigo em favor dos adversários. Quando perdemos a disputa do terceiro lugar para a Polônia, o comentarista João Saldanha o apelidou pejorativamente de “Avenida Marinho Chagas”.
Na mesma hora, imaginei, se ele recebesse tal homenagem em Natal, seria mais do que justa. Assim como já temos a Avenida Ayrton Senna, que acredito eu, não possui nenhuma relação com nossa cidade, por que não batizarmos alguma de nossas avenidas ou ruas com o nome de Marinho Chagas?!
Vejamos. Marinho Chagas é o jogador de futebol potiguar que mais vestiu a amarelinha. Jogou pela Seleção Brasileira durante quatro anos seguidos – 1973 a 1977. Também é o único jogador nascido no Rio Grande do Norte a disputar uma Copa.
Marinho ganhou três Bolas de Prata, prêmio oferecido aos melhores do ano no futebol brasileiro. A Bruxa foi eleita o melhor lateral do país em 1972, 1973 e 1981.
Nosso Diabo Loiro entrou para o time do século do Botafogo do Rio, sendo capaz de deslocar Nilton Santos, um dos maiores nomes do clube carioca, para o outro lado do campo, para que coubessem dois gênios na escalação. Jogou ao lado de astros do quilate de Pelé, Carlos Alberto Torres, Rivelino, Jairzinho, Franz Beckenbauer e Johan Cruijff.
Marinho é, sem sombra de dúvidas, o maior jogador já nascido em terras do elefante. Virou lenda, como disse Luan Xavier, seu biógrafo. Tornou-se patrimônio humano e lúdico, nas palavras do cronista Alex Medeiros, seu amigo.
Sei que parece mais um clichê reconhecer os feitos de um personagem notável após seu falecimento, mas antes tarde do que nunca. Creio que chegou a hora de eternizar o nome e a figura do que houve de melhor no futebol potiguar. Vamos seguir o exemplo do estado de São Paulo com os notáveis jornalistas esportivos daquela terra.
O deputado Kelps Lima propôs um Projeto de Lei que denomina a Arena das Dunas de “Arena das Dunas Marinho Chagas”. A Assembléia aprovou. Só falta a benção, ou sanção, do governador.
Se vai pegar, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa, uma seleção brasileira inteira aplaudiria de pé a iniciativa. Eu farei a minha parte e aconselho que os companheiros de imprensa esportiva façam o mesmo. Tão logo o governador sancione a lei, irei adotar, com muito orgulho, o título Arena Marinho Chagas, a nossa Arena d’A Bruxa, o teatro dos maiores artistas do futebol potiguar.