Os dois mais recentes fracassos da seleção da CBF inflamaram uma discussão profunda sobre a situação atual do futebol canarinho. O vexatório 7 a 1 perante a Alemanha na Copa e a eliminação entediante da Copa América, diante de um Paraguai de qualidade duvidável, tanto quanto seus famosos produtos conhecidos mundialmente, acusam, sem direito a defesa em qualquer instância, que algo precisa mudar.
Não é fácil achar resposta. Há quem procure explicação na corja de corruptos que gerem o futebol brasileiro. Há também aqueles que preferem bater – e bater mesmo que ele não seja um afrodescentente – na incapacidade intelectual do treinador Dunga. Outros apontam bodes expiatórios, como erros pontuais dos jogadores. Dizem também que o Brasil não aprendeu a jogar como os europeus ou apelam para desculpas esfarrapadas, como apagões, eventos isolados ou viroses.
Mas uma coisa é certa: concordo que o futebol brasileiro sofre com a defasagem. Concordo também que seja reflexo de uma gestão voltada para o benefício de poucos, sem se preocupar com a evolução dos clubes e com a formação de novos jogadores. Concordo que as somas dos fatores provocaram essa safra, digamos, menos talentosa. Concordo que precisamos recuperar o tempo perdido, aprender os novos conceitos do jogo.
Enquanto isso não acontecer, continuaremos alimentando nossas falsas esperanças. Não passaremos de uma ilusão tingida de verde e amarelo e reféns de um sambinha de uma nota só – Neymar – como disse Xico Sá.
Mas discordo que só adaptar o futebol brasileiro aos esquemas táticos modernos seja a solução. Lá fora, o futebol se reinventou, e nós ficamos pra trás. Somos inferiores de chuteiras e de terno e gravata. Antes de tudo, é preciso organizar a estrutura fora de campo. A MP 671 pode ser o primeiro grande passo, desde que a banda podre da CBF não a derrube antes mesmo que aprovada. É necessário que a mandatária do nosso esporte bretão aceite mudar. O 7 a 1 da Copa não serviu, ainda, como lição.
Atacar, defender, equilíbrio entre defesa e ataque, intensidade, movimentação e vibração, recomposição, voltar para marcar, propor o jogo, fechar os espaços e contra-atacar ou jogar por uma bola. Isso tudo não exclui a necessidade do talento, a beleza do futebol. Futebol apenas com tática é sem graça. O jogo perde no fator que lhe fez grande, a emoção.
Tostão sempre diz que é preciso se contrapor à monotonia e às rígidas regras. Os melhores momentos do futebol são aqueles que não são ensaiados, que não dependem da tática do jogo. O futebol é um jogo de estratégias, de técnica e de mal-entendidos. É no item três que ainda somos bons.
Solução para hoje, não há. É pro futuro. Precisamos sim, apostar em mudanças estruturais e, sobretudo, reinventar nosso futebol. Assim como encantamos ao mundo com a ginga de Garrincha, a perfeição de Pelé, a criatividade da Seleção de 82 e a beleza do futebol dos anos 90, precisamos estudar o que há de novo e criar uma nova maneira de jogar, aliando o que sempre tivemos de bom ao que há de melhor na atualidade. Já que não somos, nem temos condições financeiras de contratar os melhores, porque não, formá-los?
O mundo evoluiu e o Brasil não. O desafio agora é esse. Não basta nos igualarmos ao jogo deles. Precisamos fazer algo mais. Ser diferente para ser enfim, novamente, o país do futebol.