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O amor é ridículo

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O amor é ridículo. Não que tenha pouco valor ou seja insignificante. A gente sabe quando é importante. Sempre sabemos. É ridículo por ser digno de riso. É uma das poucas certezas de riso. É o que mais facilmente nos desperta um sorriso. Então, reformulando: o amor nos torna ridículos.

Pupilas dilatadas. Coração disparado. Frio na barriga. Gagueira. Medo de não saber o que falar. O amor é sintomático, mas de difícil diagnóstico. Talvez por não existir muitos amores iguais. Cada um tem a sua própria forma. Existe o amor exagerado e o tímido. O amor sereno, que você nem desconfia, e o amor louco que encanta o ser amado e todos ao redor.  Eduardo Galeano no documentário “Sangue Latino” nos conta, a respeito do  povoado de Neguá, no litoral da Colômbia, eles acreditam que todos somos como o fogo:

Existem fogos grandes e fogos pequenos, e fogos de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem fica sabendo do vento, e existe gente de fogo louco, que enche o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam. Mas outros, outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem pestanejar, e quem se aproxima se incendeia”.

Camões dizia que o amor é também como fogo. Por sua vez, Neil Gaiman, autor de diversos livros e histórias em quadrinhos, descreve a sensação de forma um pouco mais cautelosa: – Você já amou? É horrível, não? Você fica tão vulnerável. O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, para que nada possa lhe causar mal. Aí uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outro idiota, entra em sua vida. Você dá a essa pessoa um pedaço seu, e ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa besta como beijar você ou sorrir, e de repente sua vida não lhe pertence mais. O amor faz reféns. Ele entra em você. Devora tudo que é seu e lhe deixa chorando na escuridão. E então uma simples frase como ‘talvez devêssemos ser apenas amigos’ se transforma em estilhaços de vidro rasgando seu coração. Isso dói. Não só na sua imaginação ou mente. É uma dor na alma, uma dor no corpo, é uma verdadeira dor-que-entra-em-você-e-o-destroça-por-dentro. 

Não só isto. Quem amou uma vez parece torna-se viciado em amar. É normal, inclusive, sair de um vício direto para outro. Nos tornamos viciados pela sensação de amar. E não adianta tentar esquecer. Aliás, toda tentativa de esquecimento, por si só, já é uma lembrança. Quando é amor sentimos falta até das coisas ruins. Dos dias de “TPM”, de escutá-la reclamar do dia-a-dia. De todas as insuportáveis coisas do dia-a-dia. De ouvi-la  falar das colegas piranhas e como faz para suportá-las. De todos os homens que dão em cima e que ela diz não dar a menor bola (e nos mordemos de ciúmes da mesma forma).

Cada autor uma nova descrição. Ainda assim, ele parece ser tal qual a liberdade segundo Cecília Meireles: “é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. Costumamos acreditar, inclusive, que existem uma série de ritos que precisam ser seguidos para que a magia do amor  possa acontecer/permanecer. Não basta saber o que precisa ser feito, é preciso fazer da forma correta, da forma que se pede que seja feito. As datas comemorativas, em teoria, servem para isto. Para lembrar do cuidado e do zelo diário que precisamos ter e que por vezes nos esquecemos. As datas comemorativas nos lembram dos detalhes necessários para sua manutenção. Então, que não pensemos duas vezes em relação as nossas novas paixões: Se derrame. E, se der, ame.