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O time dos desmoralizados

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Foto: Rafael Ribeiro / CBF
Foto: Rafael Ribeiro / CBF

O telefone toca na sala da presidência. Depois da terceira tentativa, ele finalmente resolve atender ao chamado insistente. Atendeu a ligação sentado em sua poltrona velha, campeã nos últimos quatro anos de certame. – Alô, tô ocupado, fale rápido. Do outro lado da linha, o diretor de um clube do Sul, disposto a fechar negócio, objetivamente solicita os dados das duas contas bancárias para que possa enfim efetivar os depósitos.

Essa história não acaba aqui. Cenas como essa acima narrada não deveriam, mas infelizmente parecem ser mais comuns e frequentes do que nós imaginamos. Um amigo, bem relacionado com diretores de um clube, fez-me a revelação. Muitos dirigentes do futebol brasileiro, ao negociar contratações, agem dessa forma. Paralelamente ao depósito na conta do clube, recebe outro depósito, só quem em sua conta particular.

Isso tem nome, é uma triste conduta humana muito antiga. É corrupção. É receber para si uma vantagem indevida. É triste, indignante e sobretudo lamentável, mas é fato. Sem querer entrar no mérito religioso, mas sim no sentido metafórico, é um pecado difícil de ser erradicado da humanidade. Como disse Romário, “a corrupção também é regra nesse país”.

E essa constatação se estende também ao futebol mundial, que vive um momento histórico com as revelações de corrupção na Fifa, que culminaram nas prisões de José Maria Marin, ex-presidente e atual vice da CBF, e outros sete executivos mandatários, mandachuvas, ostentadores de poder às custas do mundo ilícito .

Homens que carregavam a imensa responsabilidade de administrar uma atividade lúdica e outrora amadora, que deixou pra trás a magia do tempo que o futebol ainda era jogado de chuteiras pretas e, que de repente se transformou num negócio multibilionário, de interesses muitas vezes escusos.

Homens que preferiram trocar a bola de futebol por uma de chumbo pesada e indigesta, como de prisioneiros medievais. Que optaram por viver atrás de grades amargas, vestindo as cores do time dos desmoralizados, ao invés do uniforme de suas nações.

Hoje, quando penso nesse fato, visualizo a oportunidade de limpar o nome do futebol da sujeira que esses o infestaram. Logicamente, sei que há uma estrada longa pela frente, a reeleição de Joseph Blatter não me deixa mentir. Mas já é um bom começo.

Espero que, daqui há muitos anos, alguém possa ler esta crônica e compreender o quão esse momento foi importante para o futebol. Que essa cortina, que fora escancarada, abra os olhos do mundo e traga de volta aquele futebol que um dia nós chamamos de “arte” e que, reconhecidamente é, entre todos, o mais popular e adorado esporte da história da humanidade.

Enfim, de volta a sala da presidência. Do outro lado da linha, o diretor disposto a fechar negócio solicita os dados das duas contas bancárias para efetivar os depósitos. – Minha conta não. Aqui, só a do clube!

Evidentemente, ele disse não. O nosso futebol ainda tem solução!