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Montage of Heck: o lento suicídio de Kurt Cobain (dica de filme)

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“O filme representa um desafio para as verdades e as revelações que o próprio Kurt fez sobre si mesmo ao mundo.” — afirmou o diretor do documentário que chegou nos cinemas brasileiros em maio.

O legado musical de Kurt Cobain influenciou milhares de bandas e milhões de pessoas. Sua vida meteórica têm despertado a curiosidade de fãs e curiosos. Em “Kurt Cobain: Montage of Heck” (2015), Brett Morgen conta a trágica história do vocalista do Nirvana, desconstruindo lendas, respondendo perguntas e deixando os dilemas certos no ar. O documentário é o primeiro filme a ser autorizado pela família depois da morte do músico.

Munido de uma investigação detalhista da biografia e intimidade de Cobain, o documentário percorre seus traumas e sentimentos. Para entrar fundo nos diários e gravações pessoais de Kurt, Morgen contou com a ajuda crucial de Frances, única filha de Cobain. A distância de Courtney Love da produção do filme (a viúva só participou como entrevistada) jogou papel importante na garantia de neutralidade quanto ao tema do suicídio do artista, uma vez que até hoje muitos fãs e especialistas suspeitam ou afirmam que Love teve parte central na morte do seu ex-marido.

Montage of Heck registrou os diferentes pontos de vista daqueles que conviviam com o astro, insinuando as debilidades, virtudes, convergências e contradições presentes em suas comoventes declarações. A crítica à mídia, o uso de heroína e a paixão por Love receberam atenção especial. Kurt é apresentado como uma pessoa vitimada por uma infância e adolescência infelizes, mas o roteiro não foi complacente com o vitimismo: os erros do protagonista atravessam o filme do começo ao fim, escancarando ao público um ser humano amargurado e frágil que não teve capacidade de superar seus problemas. Ainda assim, a franqueza, inteligência e bom humor de Cobain são evidenciados em cenas admiráveis.

“Descobri o que nunca ninguém viu. Por exemplo: o Kurt romântico” -- disse Morgen
“Descobri o que nunca ninguém viu. Por exemplo: o Kurt romântico” — disse Morgen / cena do filme Kurt Cobain: Montage of Heck – Brett Mogren

 É a coisa mais próxima que se tem de Kurt contando a própria história.” […] Ele estava no ponto em que, eventualmente, tinha que sacrificar o que ele era em nome de sua arte, porque o mundo pedia isso.” – disse Frances Bean Cobain em entrevista, referindo-se ao filme.

Kurt foi suicidado pelo mundo? Morgen parece indicar, com sutileza e elegância, outra tese: o eterno menino Kurt foi se suicidando pouco a pouco porque jamais suportou a sensação de se sentir humilhado e rejeitado, fosse pelos pais, pelos colegas de escola, pelos jornalistas ou pela esposa.