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A beleza do futebol

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Foto: Sátiro Sodré/Estadão
Foto: Sátiro Sodré/Estadão

Renê Simões é para mim, na atualidade, nessa dualidade de evolução e perca de identidade do futebol brasileiro, o treinador que melhor se expressa em suas entrevistas. Vejamos a última fala de Renê, neste final de semana, logo após a derrota do seu time, o Botafogo, por 1 a 0 para o Vasco, na primeira partida da final do Campeonato Carioca:

“Há alguns pontos a serem destacados. Fisicamente a equipe foi esplêndida. A coragem de jogar também foi sensacional. A equipe busca o gol o tempo todo. Foi uma maldade, mas a beleza do futebol está exatamente aí, sabia? Saio doído daqui, mas a beleza está aí. Você está dominado, prestes a perder o jogo e ganha. Duro pra mim, não merecíamos isso, mas aconteceu”.

Como ele disse, “a beleza do futebol está aí”. Entendo e acredito que Renê também, que os melhores momentos do futebol são aqueles que não são ensaiados, que não dependem da tática do jogo. É a justificativa para aquela velha máxima, inventada pelo comentarista Benjamim Wright, pai do ex-árbitro José Roberto Wright, que todo mundo que gosta de futebol já conhece, que diz que o futebol é mesmo uma caixinha de surpresas.

São os momentos inesperados, bastante discutidos por Tostão em suas crônicas que não canso de ler – e na maioria das vezes concordar. O baixinho que encantava no time de Pelé, tricampeão do mundo, escreveu que “não é sorte, nem mistério, nem milagre. O futebol é um jogo de estratégias, de técnica e de mal-entendidos”. Foi por um mal entendido desses que o melhor no jogo – o Botafogo – não marcou gols e acabou perdendo para o rival com um gol nos acréscimos da partida.

Outras modalidades esportivas por exemplo, apesar de possuírem também o papel de mobilização social, não apresentam as mesmas características do futebol. No vôlei, quase nunca há possibilidades de reviravoltas. Tanto que o Brasil de Bernardinho manteve uma hegemonia de anos mundialmente. O melhor sempre vence. No basquete, a não ser que seja uma partida muito equilibrada, são raros os jogos em que o inesperado age em detrimento da qualidade técnica e tática. Uma cesta não decide um jogo.

Não há dúvidas de que o avanço da ciência e da tecnologia, fatores que vêm transformando o futebol e tornando-o padronizado e chato, precisa encontrar um meio termo para andarem juntos com o imprevisível, o inesperado, o improviso, o subjetivo, o não explicável, o Sobrenatural de Almeida eternizado por Nelson Rodrigues, enfim, o que fez desse esporte o maior fenômeno de mobilização da história da humanidade.

As melhores vitórias são as inesperadas. É por isso que mesmo com as trapalhadas políticas e o amadorismo gerencial dos nossos clubes, não deixamos de gostar dele. Precisamos evitar que esse processo de descaracterização do futebol brasileiro continue. Mais espaço para o talento e a para a improvisação. Menos tática e disciplina. Como disse Romário, “técnico bom é o que não atrapalha”.

É isso, Renê! Concordo com você. É aí que está a beleza do futebol. Deixa o time jogar. O futebol aplaude o senhor imprevisível e dá um belo pontapé na canela do mestre certeza.